"Ao contrário dos Mundiais, os vencedores dos Campeonatos da Europa são mais imprevisíveis. Portugal é favorito, mas isso de pouco vale
Ao contrário do Mundial, o Campeonato da Europa de futebol tende a ser uma prova em que é mais difícil identificar um favorito claro à vitória porque a História mostra-nos que são muito mais as surpresas que as certezas desde 1960, quando a UEFA_decidiu honrar o mentor da ideia, Henri Delaunay. 10 seleções vencedoras em 16 edições empresta um grau de imprevisibilidade muito maior que o Campeonato do Mundo, que só conheceu oito vencedores em 22 edições. Seja por que motivo for, há uma tradição vincada de os eternos candidatos a campeões planetários exercerem o seu poder e estatuto, impedindo a emergência do underdog de quem poucos davam crédito e muito menos hipóteses mínimas de vitória final. Pelo menos até ao momento nunca houve, na competição maior da FIFA, fenómenos como a Dinamarca em 1992, a Grécia em 2004 ou mesmo Portugal em 2016.
Neste século, de resto, apenas por duas vezes me recordo de o campeão europeu ser aquele que mais ou menos todos estavam à espera: França em 2000 (dois anos depois de se sagrar campeã mundial) e Espanha em 2012 (dois anos depois de vencer o título mundial e quatro anos após se sagrar campeão do Velho Continente). Porque em todas as outras edições a surpresa foi a marca de água: Grécia em 2004, a Espanha em 2008, Portugal em Paris e até mesmo a Itália em 2020.
Serve isto para pôr em perspetiva o próximo Europeu, que arranca na sexta-feira, em Munique, com o jogo de abertura Alemanha-Escócia. Claro que em qualquer competição há sempre favoritos e nessa caixa coloco França, Inglaterra e Portugal: o primeiro porque é vice-campeão mundial, o segundo porque é vice-campeão europeu e do meio-campo para a frente tem qualidade individual para vencer qualquer jogo e os portugueses porque, como diz José Mourinho, a Seleção Nacional tem capacidade para fazer duas equipas de topo e ambas poderem sorrir a 14 de julho em Berlim. Mas nos Europeus, mais do que em qualquer outra grande competição continental, o inesperado está sempre à espreita, para gáudio das casas de apostas que veem neste espírito Eurovisão da bola um campo fértil para a imaginação.
Mas se as dúvidas são muitas, há no entanto certezas e que só enobrecem os seus protagonistas: Cristiano Ronaldo vai tornar-se no único jogador a participar em seis Europeus (já era o único com cinco; Pepe ficará em segundo na lista com cinco), continuará a ser o futebolista com mais jogos na competição (tem 25, o segundo é Pepe, com 18, os mesmos que o alemão Schweinsteiger) e muito provavelmente sairá da Alemanha continuando a exibir o estatuto de melhor marcador de sempre (tem 14 golos, mais cinco que Platini).
Independentemente de quanto jogarem, Ronaldo com 39 anos e Pepe com 41 continuarão a fazer história e num contexto muito interessante: Portugal já não dependerá tanto deles como dependeu noutras ocasiões, podendo respirar quando no passado tal não lhes era possível. Com o central pode mesmo dar-se o caso de conhecer novo momento de glória quando já não estiver contratualmente ligado ao seu clube, o FC Porto. Não sendo uma situação inédita, é mais uma história paralela que faz do Euro uma caixinha de histórias surpreendentes. Que a bola comece a rolar."
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