"O problema vai muito para além das derrotas, esta semana, de Benfica, FC Porto e Sporting
O brilhante triunfo do SC Braga em Berlim não foi suficiente para evitar que Portugal ficasse mais longe da França e dos Países Baixos no ranking da UEFA e que, pior ainda, visse a Bélgica ganhar-nos terreno. Continuamos em plano inclinado descendente, como acontece com um navio no momento do naufrágio, mas por cá a orquestra do Titanic continua a tocar como se nada se passasse de preocupante. Já se percebeu que ter três clubes na Champions é fantástico, mas também é na liga milionária que se torna mais difícil pontuar; um clube apenas na Liga Europa, é curto para as necessidades da paróquia; e a ausência de representantes na Liga Conferência leva a que os pontos de quatro sejam divididos por seis, o que nesta semana significou o retrocesso atrás descrito.
Há um ressurgimento dos clubes belgas (que agora já vemos como ameaça) na UEFA? Sem dúvida. E porquê? Porque na Bélgica reformularam os quadros competitivos, revitalizaram o campeonato e devolveram importância à classe média. Será assim tão difícil perceber que estamos a caminhar para o precipício e que a venda centralizada dos direitos televisivos, prevista para 2028, já virá demasiado tarde?
Será assim tão difícil perceber que sem classe média não há futuro, e a UEFA, quando decidiu fundar a Liga Conferência, passou à prática uma mensagem que há muito andava a repetir? Será assim tão difícil perceber que esta I Liga com 18 clubes, com um fosso sem fundo entre o quarto e o quinto, está ultrapassada, é anacrónica e tem o efeito de uns sapatos de cimento calçados em quem tenta nadar contra a maré?
É paradoxal que o mesmo País que tem uma das melhores seleções do mundo, que deu um salto gigantesco no futebol feminino, que mostra uma capacidade de pôr de pé grandes eventos que levou a FIFA a atribuir-lhe a co-organização do Mundial de 2030, que criou um modelo de formação tão eficaz que tem sido copiado em todo o lado, que montou uma escola de treinadores respeitada e requisitada nas quatro partidas da Terra, que esteve na primeira linha na inovação do VAR, bloqueie quando chega a altura de mexer com interesses instalados, de reformar para além da cosmética, de encarar de frente os problemas, identificá-los e tomar decisões. Esta não é a saga do futebol português, mas sim a chaga do futebol português."
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