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quinta-feira, 25 de junho de 2020

O que é que correu mal?


"Hoje acordámos e parece que se tornou consensual que temos um plantel horrível, o pior de toda a década. Na minha opinião isso é um tremendo exagero. O plantel até é relativamente bom, mas teve falhas na preparação que foram dando sinais a nível Europeu e que só agora apareceram num contexto nacional. Afinal o que correu mal?
1. Defesa Direito. Eu não acho Tomás Tavares mau jogador. Mas é um produto inacabado. Está longe de render num campo de futebol senior aquilo que rendia nos S23 ou nos juvenis (ele mal passou pelos Juniores, aliás, ainda é Junior). Ele raramente entra nos últimos 30 metros, ou seja, não tem qualquer impacto no nosso jogo ofensivo. Defensivamente também ainda tem muitas dificuldades porque fisicamente está abaixo dos adversários. Além dele, tivemos André Almeida mais tempo no boletim clínico do que em campo. André Almeida no ano passado não fez uma má época. Mas este ano, mal contou. Posto isto, desde que a época começou contam-se pelos dedos de uma mão o número de jogos em que um dos nossos laterais direitos fez de facto uma boa exibição. O que para uma equipa que joga com os extremos por dentro e espera que os laterais dêem largura e profundidade ao ataque, é manifestamente mau. Entretanto já lá vão 3 anos desde que Nélson Semedo saiu e ainda não temos um lateral direito a sério, que é só uma das posições mais importantes neste sistema.
2. Falta de Profundidade a Central. Esta foi a época em que ficou provado porque é que a maioria das equipas têm 4 centrais, pelo menos. Para nosso azar, dispensámos em Janeiro alguém que neste momento faria algum jeito, e como tal agora temos 2 centrais. Ferro tem tido uma segunda metade da época muito abaixo dos mínimos exigidos. Jardel, que parecia ter recuperado o lugar no onze inicial, lesionou-se. Acho que se Jardel não se tem lesionado pelo menos o jogo com o Portimonense teríamos ganho. Se Conti estivesse cá, por esta altura já seria titular quase de certeza. A posição de central foi muito negligenciada nos últimos anos. Os reforços que trouxemos não mostraram nada. O nosso maior investimento foi num central para a equipa B. Os golos que temos sofrido são uma natural consequência de anos de más escolhas. Neste momento acho que Samaris deveria fazer a posição de Ferro.
3. Épocas Fracas de Pizzi e Rafa. Pizzi até é o nosso melhor marcado e nesse capítulo tem estado bem. Mas tanto Pizzi como Rafa estão muito menos envolvidos no jogo. Mais do que um problema de eficácia na finalização, nós temos tido um problema gravíssimo na construção. A equipa uma vez chegada ao meio campo não consegue progredir com a bola. Acabamos quase sempre por ou a perder ou cruzá-la. Gabriel e Weigl conseguem meter a bola onde quiserem. Taarabt tem criado muitos desequilibrios. Mas sem Pizzi e Rafa a fazer o que faziam o ano passado, a bola não chega aos avançados para rematar. Este, a par da falta de um lateral direito, que inevitavelmente afecta o jogo aqui também, é o nosso maior problema. Pizzi e Rafa estão muito longe do que faziam no ano passado.
4. Jota e Zivkovic não se afirmaram. Uma época menos boa do Pizzi e do Rafa não seria muito negativa, porque apesar de haver várias posições com problemas nas alternativas, não é o caso nas posições de Pizzi e Rafa. O problema é que os jogadores que tecnicamente eram as alternativas a Pizzi e a Rafa não surgiram de todo esta época. Zivkovic, em tempos uma das grandes promessas do futebol mundial (depois do Mundial S20 2015 que a Sérvia ganhou), fez os primeiros minutos na Liga ontem. Jota, outra das grandes promessas do futebol mundial, começou muito bem a pré-época mas também nunca teve uma aposta a sério de Bruno Lage. Estes dois jogadores que a nível de talento têm um potencial incrível acabaram por perder o espaço para Franco Cervi, que tem muitos adeptos nas redes sociais, mas que além de muita luta não acrescenta grande coisa a uma equipa de futebol. Perdeu a capacidade de drible que tinha na Argentina. Não é um jogador que aparece nos movimentos colectivos. Não é uma real alternativa a Pizzi ou Rafa.
5. Mudança de Estilo de Jogo Obrigatória. Depois do Benfica contratar RDT, eu desliguei completamente das notícias que nos metiam perto do Carlos Vinícius. E desliguei por um simples motivo. Nós não precisávamos de mais um ponta de lança. Nós precisávamos era de um segundo avançado. Sempre achei que íamos acabar por assinar o Luca Waldschmidt, mas acabámos por trazer outro ponta de lança quando já tínhamos o melhor marcador da Liga NOS do ano passado e RDT. Andámos umas semanas a jogar com dois pontas de lança, acabámos por perceber que o modelo só funcionava com um ponta de lança e um segundo avançado. Lá metemos o Chiquinho a jogar atrás de Vinícius, mas Chiquinho não é João Félix. Tudo se preparava para arranjarmos uma solução (ou um segundo avançado ou um médio mais criativo que conseguisse dar os desequilíbrios e passarmos a jogar em 4-3-3). Parecia que a solução ia ser Bruno Guimarães. Até que o Benfica ficou com 7 pontos de avanço e a Direcção do clube achou que isto estava decidido, não valia a pena o investimento. Andamos desde Maio do ano passado a tentar jogar como jogávamos com o João Félix, sem João Félix ou alguém sequer parecido com ele.
Se dois destes cinco pontos não têm acontecido, não só estávamos em primeiro, como provavelmente estaríamos a 2-3 jogos de celebrar o título. A estrutura do Benfica até pode alegar que era difícil fazer alguma coisa quanto aos casos de Pizzi, Rafa, Zivkovic e Jota, mas nos outros três pontos, a culpa é totalmente deles. Não houve preparação nenhuma em casos que eram manifestamente óbvios. Temos uma política desportiva que vende jogadores ao cabo dos primeiros bons jogos, muitas vezes (a maioria) nem são substituídos. Os nossos principais investimentos em reforços parece que é mais importante que venham pela mão de determinado agente do que encaixarem-se na equipa.
Acabamos com uma equipa que tirando na posição de lateral direito, até tem um onze inicial bastante razoável. Com três (no início da temporada) alternativas válidas para ponta de lança, quatro boas apostas para extremos, quatro boas apostas para médio centro, mas sem um lateral direito, sem um segundo avançado e sem alternativas a central. Isto já não é amadorismo. Qualquer amador percebia que o que estavam a fazer era errado. Isto é um caso de interesses desalinhados. Quem fez estes negócios, trazer Vinícius depois de ter 2 pontas de lança titulares (e Vinícius até fez uma época razoável, mas não invalida o excesso de pontas de lança que temos em comparação com certas posições que estão mais curtas), não gastar dinheiro num central depois de Conti sair, não gastar dinheiro num lateral direito pelo terceiro ano consecutivo, não pode ter os interesses do Benfica em primeiro plano."


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