"Os clubes começam a dar sinais de instabilidade financeira, e o que aí vem é pouco animador. Os clubes vão ter que se reestruturar, mas resta saber se todos aguentam.
O FC Porto anunciou recentemente que vai optar por adiar o pagamento de um empréstimo obrigacionista que vencia a 9 de Junho - os dragões querem pagar em Junho de 2021. É evidente que a instabilidade actual explica a solução encontrada pelos portistas, mas não reembolsar os investidores na data prevista é sempre uma má notícia para as entidades. No entanto, sublinhe-se que o clube admite liquidar a dívida antes, em Janeiro de 2021, caso tenha condições para isso.
A emissão de obrigações nesta fase também não é solução, porque os ditos “mercados” estão em pânico - e quando os investidores andam por aí a implorar ajudas do estado, parece improvável que queiram arriscar grandes investimentos no mundo do futebol português. O exemplo do FC Porto serve apenas para sustentar que, na minha opinião, aproximam-se tempos muito difíceis para os clubes do campeonato.
Parece-me claro que as empresas vão entrar numa fase de contenção de custos, e isso vai seguramente reflectir-se nos contratos de publicidade, não só em Portugal como no resto da Europa.
E podemos estar perante um efeito dominó: menos dinheiro a circular no futebol europeu, menos compras milionárias que, frequentemente, ajudam (e de que maneira) os clubes portugueses. E assim nasce outro problema, transversal aos principais emblemas da nossa Liga: vendas como as conseguidas nos últimos anos (a de Bruno Fernandes é a mais recente) parecem impossíveis de concretizar por agora.
E que impacto pode ter nas finanças destes clubes? É natural que Porto, Benfica e Sporting (e outros) estivessem a trabalhar no sentido de ainda conseguir transferir alguns jogadores no mercado, mas confesso que ficaria muito surpreendido se fosse mesmo possível concretizar uma grande venda nos próximos tempos. Por isso, vai ser preciso apertar o cinto...
Também tem sido mais ou menos discutida a questão salarial. Os clubes terão chegado a entendimentos diferentes com os jogadores - alguns com cortes salariais, layoffs, outros a pagar em prestações, e por aí fora - porque nitidamente não há capacidade para pagar agora. E quando haverá?
Pior: nas últimas horas, a Altice já avançou que não vai pagar aos clubes os valores das transmissões, porque estas nem sequer existiram. Portanto, em Abril, alguns clubes arriscam-se a ter zero receitas. E daí se percebe a «pressa» em regressar à competição, mesmo sem adeptos nas bancadas (algo que vai fazer correr muita tinta, acho).
O cenário é muito pouco animador. Os clubes de maior dimensão vão-se gerindo de empréstimo em empréstimo, com antecipação de receitas e alguns exercícios de contabilidade pelo meio. A dívida dos três grandes (e de outros clubes de menor dimensão) é astronómica, e admito que não consigo vislumbrar como vai ser gerida daqui para a frente.
Por outro lado, e conhecendo o historial de alguns emblemas nacionais, começa a ser claro que dificilmente vão conseguir cumprir os compromissos assumidos. E vou mais longe, temo sinceramente que alguns clubes não consigam ultrapassar as dificuldades, e se afundem nas divisões inferiores.´
Para terminar, e os clubes da II Liga e Campeonato de Portugal? Para já, reina a confusão. As receitas já são poucas, teme-se que nos próximos meses passem a ser quase nenhumas. Estou certo que alguns não vão aguentar.
Foi anunciado que António Costa vai receber os presidentes dos três grandes - ajuda a traduzir o sentimento de preocupação do momento - mas não deixo de lamentar que não haja espaço para os representantes de outros clubes. Se é óbvio que Porto, Benfica e Sporting vão sofrer (menos transferências, publicidade cortada…), também é óbvio que os clubes do meio da tabela para baixo podem sofrer ainda mais, com consequências mais devastadoras.
Esperemos que se pense sobretudo nestas equipas, e não se siga o exemplo que algumas elites defendem para o país: ajudar quem tem muito, sacrificar quem já tem muito pouco.
E que se aproveite para pensar nos elogios permanentes ao chamado “futebol-negócio”, com a figura supostamente inevitável dos «clubes-empresa». O desporto precisa mesmo de fazer girar tantos milhões nalguns bolsos? Será que um futebol mais popular e menos financeiro não estaria mais apto para aguentar um embate destes? Provavelmente."
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