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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Uma análise detalhada do FC Porto - SL Benfica

"Esta análise vem com alguns dias de atraso, primeiro porque o futebol é a coisa mais importante das menos importantes, e então estive os últimos dias ocupado com outras coisas mais importantes. Segundo, acho que ainda precisávamos de algum tempo e de deixar a poeira assentar até estarmos prontos a discutir o que realmente aconteceu.
Ao contrário de no jogo da primeira volta, o FC Porto desta vez não foi melhor do que o Benfica. Ganhou o jogo. Mas isso não quer dizer que tenha sido melhor naquela noite. Significa apenas que marcou mais golos. Houve coisas que o Porto fez bem. E houve também muitas coisas que nós fizemos bem. No final acho que o resultado mais justo teria sido um empate. Acho que foi o melhor jogo da época na Liga Portuguesa e que nós fizemos um jogo melhor do que a maioria das pessoas tem apontado.
1. Os Primeiros Posicionamentos. O Benfica entrou com Julian Weigl a baixar para o meio dos centrais; Taarabt e Chiquinho a dar linhas de passe, os dois laterais ligeiramente subidos, na linha dos médios centros; Rafa e Pizzi no apoio a Carlos Vinícius. Inicialmente procurámos os espaços entre linhas, visto que o Porto estava muito esticado dentro do campo e havia espaço para a bola entrar. Os passes não saíram de feição. Do outro lado, o Porto entra em campo com Corona a fazer a ala toda no lado direito; dois pontas de lança e Otávio a aparecer perto dos dois médios centros; enquanto Alex Telles e Luis Diaz dividiam a ala esquerda.
2. O Primeiro Golo do Porto. Até ao momento em que Marega “toca” na cara de Taarabt, praticamente só o Benfica tinha posse de bola, depois disso, ficámos uns segundos a jogar com menos um, o Porto começou a subir mais no campo e começou a apertar connosco. Inicialmente mais pelas bolas paradas ou na sequência destas - Pepe tem um cabeceamento que poderia ter sido perigoso. Depois mais no jogo corrido. O que esteve a falhar nessa altura foi a nossa capacidade de ganhar duelos. Talvez Bruno Lage tenha pedido à equipa para ter cuidado com faltas próximas da área - o forte do Porto -, noutras jogadas fica a sensação que apesar da equipa ter as linhas muito juntas, ficou a faltar o apoio de um segundo defesa. A verdade é que o Porto chega ao golo na sequência de um lançamento de linha lateral, onde Otávio passa por Grimaldo e em que ninguém apoiou o espanhol até ao momento do cruzamento - onde Ferro aparece, mas já sem efeito. O cruzamento acabou por sair para Sérgio Oliveira que entrou na área livre de marcação, que parece que deveria ser de Chiquinho.
3. Reacção do Benfica ao Golo. A reacção foi positiva. A partir do primeiro golo, vimos Adel Taarabt a transportar mais a bola com combinações curtas com Rafa, Pizzi e Chiquinho, pelo corredor central. Temos uma boa combinação de André Almeida com Rafa - com a ajuda também de Chiquinho que tira Marcano da jogada - ao minuto 15, onde o Rafa acaba por rematar uma bola prensada em Pepe e sem grande perigo, mas que foi um bom movimento. Acabámos por chegar ao golo do empate num encosto de Vinícius na sequência de um cruzamento de Rafa, cabeceamento de Chiquinho e defesa incompleta de Marchesin. Este golo foi também consequência de um movimento que o Porto fez - e que até teve sucesso boa parte do jogo - que foi a estratégia de não deixar os laterais sair ao extremo do Benfica, deixando o extremo - Luis Diaz ou Otávio - ir pressionar os extremos o Benfica e os laterais a fechar por dentro. Ora nesta jogada, ninguém sai ao Rafa que acaba por cruzar uma bola perfeita para Chiquinho.
4. Até ao Penalty. Depois do golo do Benfica, o jogo entrou num momento onde Artur Soares Dias se descontrolou um pouco. Deu amarelo ao Taarabt e ao Otávio por um ‘zunzun’ desnecessário, mas onde o amarelo parece abusivo. Depois deu outro amarelo ao Weigl numa simulação do Luis Diaz. Até ao penalty, de registo, só há um lançamento lateral do Porto que culmina com um remate à entrada da área do Sérgio Oliveira. De resto, jogou-se muito pouco tempo.
5. O Penalty. O penalty vem da sequência de um livre, que por sua vez veio de um lançamento onde o fiscal de linha decide dar a bola ao Porto quando era para o Benfica. Mas ignorando isso. Este penalty não é nenhum escândalo ser assinalado em Portugal. Tenho dúvidas que fosse assinalado em Inglaterra. O argumento para assinalar o penalty é o da volumetria, que tem sido muito utilizado em situações destas. No entanto, na minha opinião pessoal, não consigo entender como é que esse argumento é válido numa jogada onde o Ferro está de costas, a saltar e acima de tudo, para mim o argumento mais forte, está menos de um metro do jogador que cabeceia a bola. Nem vamos falar do toque nas costas, onde não dá para perceber a intensidade. O nosso objectivo no futebol é que os jogadores saltem com as mãos nas costas? Um jogador quando salta vai sempre ter os braços abertos, é a posição natural do corpo. Consigo compreender a pressão do jogo, mas este penalty foi mal assinalado, na minha opinião. A volumetria tem que ter certas limitações. E já teve em algumas jogadas no nosso Campeonato este ano. Um exemplo é a mão do Bruno Morais no Benfica-Aves aos 81 minutos, numa altura que o jogo estava 1-1. Um colega do Bruno falha o corte, a bola bate no defesa do Aves e depois bate no braço. Havia volumetria, a bola sobraria para o Seferovic em posição de perigo mas acabou por ser travada pelo braço. Não foi assinalado penalty - e bem na minha opinião. Curiosamente, um dos jogos que o Porto diz que o Benfica foi beneficiado foi precisamente este jogo com o Aves.
6. Depois do Penalty. Poucos minutos de depois do penalty, o Porto chega ao terceiro, numa jogada que já tinha tentado fazer duas-três vezes antes. Passe a partir do espaço entre linhas - bom movimento do Sérgio Oliveira - para as costas da defesa no espaço entre Ferro e Grimaldo, Marega a ganhar a luta corpo-a-corpo a Ferro e cruzamento rasteiro a sair para o desvio de alguém. O Ferro é um excelente central. A primeira parte não lhe saiu bem. Mas a maioria dos seus pontos fracos são possíveis de evoluir. Temos que continuar a apostar nele. Ele vai crescer. Para já, o mais importante é dar o salto físico que o Rúben Dias deu no último ano. Uma vez assegurando isso, este tipo de entradas do Marega ou de outros avançados similares não serão um problema. A nível de pés, o Ferro é dos melhores centrais portugueses dos últimos 20-30 anos.
7. O Segundo Golo do Benfica. Logo a abrir a segunda parte, o Benfica mostrou que o jogo não estava acabado. Um belo passe para as costas da defesa de André Almeida, uma grande movimentação de Rafa e finalização de Vinícius.
8. Até Taarabt sair. Até Taarabt sair, o Porto teve uma boa oportunidade de Pepe numa bola parada. Marcano lesionou-se e foi assistido. Luis Diaz lesionou-se e esteve no chão quase um minuto. Tivemos algumas posses de bola que ou saímos de maneira muito apressada, ou acabámos por fazer passe para a zona entre linhas que o Porto conseguiu antecipar-se. Numa dessas bolas, Taarabt faz falta sobre o Sérgio Oliveira à entrada da área e o marroquino acaba por sair. Se não saísse, estava a uma falta de ver o vermelho. Com a saída do Taarabt, perdemos o nosso motor de jogo. Ficámos a jogar num claro 4-4-2. Chiquinho no meio com Weigl e mais tarde com Samaris. Chiquinho está longe do nível que mostrou o ano passado no Moreirense. É um jogador que tem sido pouco eficaz a nível de passe e até algo lento a decidir. Houve aquela confusão do Vlachodimos com o apanha bolas/a claque do Porto - não percebi bem. No geral jogou-se muito pouco depois do golo do Benfica. Ainda assim, quase que empatávamos o jogo aos 67 minutos com um cruzamento de Vinícius em que Seferovic acerta de raspão. Se calçasse dois números acima, talvez tivesse acontecido alguma coisa de especial. Vinte segundos depois, Pepe manda-se ao chão, é assistido e demora três minutos até sair e o jogo retomar. Sempre que o Benfica criava perigo, o Porto arranjou maneira de congelar o jogo.
9. Últimos Minutos. Houve um remate perigoso do Luis Diaz. Depois outro do Chiquinho. Mas nenhuma jogada com pés e cabeça. Tudo a jogar mais com o coração do que com a cabeça. Marcano e André Almeida foram assistidos no relvado - André Almeida viria a ser substituído por isto - numa jogada que seria canto para o Benfica mas acabou a ser falta para o Porto - apesar de os dois jogadores só jogarem a bola. O Vítor Ferreira e Manafá estiveram para entrar três ou quatro vezes, algumas delas com o 4º árbitro a levantar a placa - valeu tudo para queimar uns segundos, o que também é normal nestes jogos. O Vítor Ferreira só entrou nove minutos depois da primeira vez que o jogo parou para ele entrar. O Dyego Sousa entrou pelo lugar do André Almeida e a ideia de jogo do Benfica passou a ser bombear bolas. No entanto, a verdade é que desde da saída do Taarabt pelo Seferovic, o jogo ficou muito confuso, com Vinícius e Seferovic a caírem para as alas muitas vezes e como tal o efeito de ter dois/três homens de área praticamente sem se sentir. Ficou a clara ideia que não tínhamos este sistema muito trabalhado. Por outro lado, olho para o banco e quem é que o Benfica poderia ter posto em vez do Dyego? O Cervi não é o melhor jogador para um jogo naquelas condições. E tirando o argentino, a nossa maior opção ofensiva era o Florentino. Jota fez falta.
10. Maus Alívios. Diria que cerca de 30-40% das jogadas mais perigosas do Porto - o lançamento que dá o primeiro golo, por exemplo - são resultantes de maus alívios que a nossa defesa fez. Percebo a ideia de sair a jogar. Mas num jogo desta intensidade, não tenho tanta certeza que tenha sido bem pensado. O Porto sempre que estava apertado fazia alívios em forma de balão de 50-60 metros. Já nós tentávamos sair a jogar, se não desse, fazíamos alívios mais modestos. Isto acabou por fazer mais diferença do que poderemos pensar.
11. Arbitragem. Além do penalty - que já falei mais em cima - acho que o grande erro de Artur Soares Dias continua a ser apitar todos os toques. O futebol é desporto onde nem todos os contactos são falta. Para Soares Dias não. Estas faltas todas que assinala acabam por criar um ambiente explosivo dentro de campo e parar muitas vezes o jogo. Não favorece o futebol. Mas lá está, enquanto tivermos programas a discutir faltas em slow-motion durante horas, os árbitros vão continuar pressionados a apitar todos os contactos.

Acho que o Benfica fez um bom jogo, mas não um grande jogo. Acho que podíamos ter sido um pouco mais agressivos em alguns duelos, principalmente duelos aéreos - perdemos quase todos -, podíamos ter sido práticos em algumas situações e não abusar tanto do sair a jogar, e acho que se o Gabriel tem estado disponível para este jogo, não estaríamos tão dependentes de Taarabt e o jogo teria tido uns últimos 20 minutos bem diferentes. No final e aquilo que mais importa é que o Benfica está em primeiro lugar, a quatro pontos do FC Porto, tendo já ido ao Dragão, a Braga, a Alvalade e a Guimarães. Enquanto o FC Porto ainda tem que ir a Guimarães e a Braga.
O jogo de hoje ganha especial importância porque é a oportunidade do Benfica dar um pontapé na crise, ganhar um jogo importante, assegurar a presença em duas finais - Taça de Portugal e Supertaça - e continuar a brilhante caminhada que tem sido esta época."


PS: Concordo com a importância do Taarabt no nosso jogo e da forma como as agressões e o amarelo acabou por condicionar o Adel; discordo totalmente da análise soft da arbitragem!

2 comentários:

  1. Não referir a agressão brutal do Pepe é ridiculo!! É impossível dizer que uma equipa perdeu mais duelos se a outra foi agressiva de uma forma ilegal e não foi penalizada. O facto de a agressividade ilegal do porto não ser penalizada faz com que sejam mais agressivos!

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  2. Boa análise do jogo. O PS estraga tudo. O condicionamento do árbitro é dos jogadores do Benfica por entradas violentas, agressões, provocações, simulações e outras, totalmente impunes não é soft. É hard. Eles correram mais que nós (o que por si não quer dizer nada) mas nunca estiveram condicionados nos duelos disputados. É foi aí que o fcporko começou a ganhar o jogo.
    Relativamente ao penalti será sempre interessante comparar a avaliação deste mesmo árbitro em lances de jogos anteriores, nomeadamente com o porko e com o sportem. Na verdade, o golo do penalti fez a diferença entre termos 4 ou 7 pontos de vantagem. É não é de somenos.
    Finalmente ficaria bem incluir na análise o facto do Benfica ter jogado menos de 72h antes com 3o classificado da 1liga e o porko com um clube de meio da tabela da 2liga. E ter poupado meia equipa.
    Ficava mais rica a análise.

    CARREGA BENFICA TRINTA E OITO!

    NENÉ

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