"No final do jogo do Estoril, Rui Vitória exclamou: «Já só faltam três finais!» Depois do jogo, vividas as emoções, no meu íntimo e de muitos benfiquistas, ia algo de diferente: «Ainda faltam três finais!» Vamos a elas! O nosso futuro escreve-se em 270 minutos.
Domingo, em Vila do Conde, estão os primeiros 90 para redigir, teoricamente os mais difíceis. Se outra razão não houvesse, há a estatística: o Benfica perdeu cinco dos últimos onze jogos nos Arcos. Agora de nada servem as desculpas nem o que está para trás, resta olhar com determinação e qualidade para os três jogos que faltam.
Jonas, mesmo longe do seu melhor, ainda espalha o perfume da sua qualidade. A forma como festejou aquele segundo golo mostra o que sente, o que vibra, o profissional que é e o quanto quer ganhar. Minutos antes de sair, completamente exausto, tinha feito uma recuperação defensiva de 40 metros, num esforço que exemplificou a fibra de um campeão. Os títulos e as conquistas também se fazem de exemplos de sacrifício e de superação. Jonas, para lá do talento, é tudo isso. Nesta fase, o campeão Benfica precisa de ser assim para continuar a ser o campeão Benfica.
Este final de temporada irá ser muito duro dentro de campo e muito sujo fora dele. Temos de estar preparados para a intoxicação e a mentira. Nenhum rival nos cai reconhecer o mérito e nenhum adepto pode vacilar no apoio. Há clubes que se queixam de quem mexe na bola 10 centímetros antes de marcar um livre, num jogo em que beneficiaram de três penalties em quatro minutos. Há clubes que se queixam dos seus jogadores não poderem fazer entrada assassinas nos colegas, sem ser sancionados. Mas diga-se que Dostoiévski já nos havia escrito que «a mentira é único privilégio do homem sobre todos os outros animais». No fundo, os nossos adversários são intelectuais, não são mentirosos."
Sìlvio Cervan, in A Bola
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