"Ainda deve estar para nascer o dirigente que se penitencia pelo fraco investimento no plantel ou, como é hábito e costume, por ter-se substituído aos técnicos na escolha de jogadores. Também está por conhecer o treinador que confessa ter estudado mal o adversário ou falhado na estratégia e na táctica. É por isso que os árbitros são instrumentos valiosos, sem os quais muitos entendidos na matéria teriam de rever procedimentos. São valiosos pela sua função zeladora da correcta aplicação das leis de jogo e também pela cobertura que dão a dirigentes ineptos e a treinadores presunçosos, os quais descobriram neles a tábua de salvação de incompetências ou o vazadouro de desatinos que pretendem esconder do escrutínio público.
Em vez de se destacar o interesse da Liga com cinco intervenientes no grupo da frente separados por oito pontos, que a coloca na primeira linha dos campeonatos mais discutidos da Europa, ou em vez de se valorizar as coisas boas do futebol português, que são muitas, e de se aplaudir os passos firmes que têm sido dados por uma Federação de referência a nível mundial, como é o caso da FPF, continua a desperdiçar-se tempo em discussões inúteis ou em conversas de conteúdo vazio. Há quem prefira mil vezes agarrar-se ao passado em vez de abraçar o futuro. É o medo do desconhecido: manter tudo como está.
De aí os lamentos que cansam: um presidente sentir-se prejudicado em quinze penalties, um por jornada, ou um treinador ter apontado o dedo acusador a Jorge Sousa, culpando-o pelo atraso pontual para o líder, tendo-se esquecido, porém, que perdeu pontos com Rio Ave,Vitória de Guimarães Tondela, Nacional e SC Braga. Paz aos árbitros, sem eles há treinadores e dirigentes que teriam de mudar de vida..."
Fernando Guerra, in A Bola
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