"Estamos em semana de muito e bom futebol. A festa começa hoje, no Dragão, com o FC Porto-Maccabi de Telavive e prossegue amanhã com o Galatasaray-Benfica. Os dois únicos representantes portugueses na Liga dos Campeões ocupam classificações interessantes nos grupos de qualificação que lhes entreabrem as portas das eliminatórias (4 pontos portistas e seis os benfiquistas nas duas primeiras jornadas). Depois de amanhã será dia de Liga Europa, com o Braga em plano de destaque ao liderar o seu grupo, mais o Sporting, com janela ampla de onde se vislumbra a final da prova, e o Belenenses, nitidamente sem andamento para gerir duas frentes, a interna e a externa, correndo o risco de sofrer danos de complexa reparação, conforme o próprio treinador já reconheceu. O que coloca a nu, mais uma vez, as debilidades da Liga portuguesa e confronta a intensidade competitiva que a caracteriza: todos gostam de se pavonear nos palcos uefeiros, mas, de um modo geral, do quarto lugar para baixo a tendência para só assinar o ponto e prejudicar a nossa posição no ranking é incontrolável. Nem sempre foi assim, é verdade, mas as honrosas excepções que a história nos revela (Vitória de Setúbal, Boavista, Vitória de Guimarães e até o Belenenses) apenas confirmam a regra.
O programa completa-se com o derby, o mais desejado de todos, na Luz. E talvez por isso, Jorge Jesus, imediatamente a seguir à vitória sobre o Vilafranquense na Taça de Portugal, entre outros reparos, lançou um aviso à navegação, dizendo o que, agitadores congénitos à parte, todos gostariam de ter dito. «Gostava que a uma semana do derby se falasse mais de futebol, que se falasse mais da qualidade dos jogadores do Benfica, da qualidade dos jogadores do Sporting, do valor de ambas as equipas. Era muito melhor para vender o futebol, nós aqui e vocês aí. Vamos esperar para ver», afirmou o treinador leonino naquilo que poderá definir-se como atitude de eloquente sensatez que ajuda a desenrolar o novelo de intrigas, de agressões verbais e de outros cenários igualmente pouco edificantes.
Esta recomendação/desabafo não deve dirigir-se a alguém em particular. Retrata tão-somente um estado de espírito e expressa uma sugestão no sentido de se dar espaço e condições para os actores poderem trabalhar e prepararem-se como desejam de maneira a atacarem com sucesso os importantes desafios que os esperam, porque, contrariamente ao que apregoam os donos da razão, quando chegar o momento da decisão, tudo quanto afirmaram ou insinuaram vale absolutamente nada. O que conta é o que vai passar-se sobre o relvado: a coragem, a força, a inspiração e o talento dos jogadores, consequência da preparação técnica, física e mental determinada pelos treinadores, em função da experiência, do saber, da confiança e da perspicácia de cada qual.
Assim, embora não tendo sido ele o destinatário da mensagem de Jesus, não ficaria mal a Bruno de Carvalho tentar compreender o seu significado e fazer um esforço para entregar o protagonismo a quem o merece, aos únicos que o merecem: jogadores e treinadores, porque são eles os artistas que compõem o espectáculo.
Pedir-lhe para ficar calado, ou falar com moderação, é desperdício de tempo. Ainda ontem, por exemplo, teve direito à antena da RTP África e Internacional para se dirigir ao mundo lusófono. O que pode ser o ponto de partida de excelente ideia futura. Por cá, já lhe ouvimos quanto baste, mas somos poucos, dez milhões mal medidos, motivo por que não seria despiciendo se passasse a dar mais atenção aos grandes mercados emergentes no futebol, como o asiático... Tanaka seria logo valorizado para aí em mil por cento..."
Fernando Guerra, in A Bola
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