"Já o tenho dito: se há coisa pior, muito pior do que algum vieirismo, é o anti-vieirismo que grassa por aí.
Obstinadamente estúpido, cego e radical.
Alimentado de ódios irracionais, de preconceitos e de pretensas superioridades morais.
Populista e demagógico, aparece em momentos críticos, cavalgando ondas e dizendo o que algum povo quer ouvir.
Nada de novo: é assim qualquer neo-fascismo populista e pretensamente moderno.
Vivia dias complicados o anti-vieirismo: depois de todos os agoiros, premonições e voodoos, o Benfica tinha feito uma época de sonho só parcialmente estragada em Turim por um alemão ao serviço de mais elevados valores.
Eis, porém, que o defeso trouxe novo alento ás trincheiras e entre mortos e feridos ninguém escapa á debandada: a acreditarmos em alguns arautos da desgraça, o Benfica não tem jogadores sequer para uma equipa de futsal.
Para alguma imprensa é um festim: não é novidade, é disto que se alimentam os vampiros.
Para o tal anti-vieirismo militante, melhor ainda: era a oportunidade em falta depois de uma época quase irrepreensível.
O que incomoda não é tanto a verborreia: são os custos da democracia e nisso o Benfica fez história, quando votar, escolher e debater eram coisas proibidas.
Esquecem alguns que o Benfica apesar de imenso, não passa de um clube de um país pobre, periférico e inserido num realidade futebolística à beira da falência económica, moral e desportiva.
Esquecem esses mesmos que a única possibilidade de sobrevivência para um clube como o Benfica, é a diferença gerada entre as boas compras e as boas vendas ou, se quisermos, as vendas possíveis.
Claro que num meio inquinado e no mínimo pouco transparente, muita coisa se pode questionar, desde uma politica de comunicação trapalhona e pouco clara, até às opções desportivas pouco compreensíveis.
Pretender-se (ou apenas vender a ideia) que o Benfica tem de ser uma espécie de aldeia de irredutíveis, que não cede, não aceita propostas, não vende, é, contudo, de uma desonestidade intelectual enorme.
Podemos sempre, obviamente, discordar dos moldes em que um qualquer negócio foi efectuado, ainda que e cada vez mais, desconheçamos os meandros.
Podemos e devemos também questionar uma política de comunicação que ao invés de esclarecer, prefere calar e deixar arrastar dúvidas e suspeições: a transferência de Garay é, aliás, um óptimo exemplo.
Tudo isto é uma coisa; algo bem diferente é, porém, ignorar o capitalismo selvagem em que o futebol se enredou em favor de meia-dúzia de clubes ricos e poderosos e fingir que estamos longe, imunes, inalcançáveis.
Não me agrada, obviamente, poder perder 4 ou 5 jogadores titulares mas não me parece que o Benfica tenha argumentos para contrariar uma tendência a que nem os Liverpool e os Chelsea deste mundo escapam: é bom que não esqueçamos que os anos 60,70 e 80 já lá vão e que a lei da opção acabou há muito.
Ignorar isto é apenas tentar tapar o sol com a peneira.
Ou então mentir, enganar e manipular, o que, de resto, é bem pior."
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