"O Benfica recebe hoje o Tottenham. Faço votos para que ninguém se magoe, porque verdadeiramente importante é o jogo que temos no domingo contra a Académica.
O Sporting quer ser o rei da selva. Está no seu direito. É leão. Corre um rumor na selva. O rei da selva em exercício está em decadência. Há quem acredite. Há quem, antes pelo contrário, duvide. Durante o longo reinado que muitos insistem estar a acabar, o Sporting foi um aliado. Excepção feita aos consulados de João Rocha, na década de 80 do século passado, de Pedro Santana Lopes, no virar do século e de Dias da Cunha, já em pleno século XXI. Estes primaram por outra coisa. A ideia que se transmite a um observador externo é que o Sporting, que manteve relações cordiais com o reinado em alegada decadência, pretende agora apanhar os cacos da derrocada para a qual tão pouco trabalhou. Também está no seu direito. Não se trata de oportunismo. Trata-se de oportunidade. Embora haja quem pense que se trata, na verdade, de puro oportunismo. Muito têm apreciado os benfiquistas o silêncio oficial do seu clube. O presidente do Benfica ficou-se por se mostrar satisfeito por não descer de divisão se lhe forem subtraídos os pontos reclamados. Teve a sua graça. Mas deseja-se que se fique por aqui. Já os portistas não terão apreciado o silêncio do seu presidente durante a semana de lançamento do movimento Basta. E agora dizem que é tardio o comunicado anti-viscondes. Estas coisas não costumavam acontecer. Uma coisa é certa. A selva está virada do avesso.
O segundo golo do Nacional, na noite de segunda-feira, foi marcado por Djanniny, jogador emprestado pelo Benfica aos madeirenses. Boa, Djanniny!
Sempre que o Benfica tenha de sofrer golos pois que sejam marcados por jogadores do Benfica-emprestados ou mesmo por ex-jogadores do Benfica com forte ligação às origens.
Isto para calar as vozes moralistas que, por exemplo, se levantaram em coro há coisa de poucas semanas quando o Benfica visitou o Restelo e Miguel Rosa nem sequer foi para o banco de suplentes por opção da SAD do Belenenses – conforme viria a ser noticiado – e não por imposição do patrão ou do ex-patrão, que é o que para o caso menos importa…
E, já agora, sempre que o Benfica tenha de sofrer golos pois que marque sempre mais golos do que os do adversário. Não se esqueçam deste pormenor.
É que é assim que se ganham os jogos, por enquanto.
O jogo do Funchal decorreu sem incidentes dentro e fora das quatro linhas. Refiro-me a incidentes daqueles que dão que falar durante a semana inteira.
No entanto, seja qual for o resultado de um jogo de futebol haverá sempre gente insatisfeita e predisposta a analisar a menor ocorrência sob a perspectiva dos seus interesses.
E nisto, tenham lá paciência, somos todos iguais. Iguais até um certo ponto, como poderão constatar.
Do lado do Benfica, por exemplo, no fim do jogo, não se ouviu nem um rumor sobre o trabalho do árbitro. E Manuel Mota – com todo o respeito pela semana de angústias que teve de suportar -, se acabou por não ter influência na decisão da partida, já não se esmerou, propriamente, num modelo acabado de arbitragem anti-caseira.
Do outro lado, não do lado do Nacional mas do lado dos adversários do Benfica nesta corrida pelo título de 2013/214, ouviu-se porém lamentar que o penalti assinalado a Luisão «foi cedo demais».
E, de facto, foi cedo, aos 6 minutos de jogo. O «cedo» aceita-se por isso mesmo.
Já o «demais», francamente, reza o bom senso que é má política contar como garantidos penaltis assinalados à hora mais conveniente em função do resultado e dos interesses em jogo.
Manuel Mota apontou para a marca da grande penalidade aos 6 minutos porque entendeu que Luisão jogou com a mão a bola que lhe ressaltou da coxa. Interpretação discutível mas aceitável.
Eu não marcava o penalty. Para mim era bola na mão e não mão na bola. Mas eu sou do Benfica e Manuel Mota é árbitro, são coisas diferentes, podem crer. Temos três décadas de História que o provam.
Criticam-no agora os nossos adversários por ter assinalado esse castigo máximo e acusam o árbitro de ter, com essa decisão, provocado a cavalgada do Benfica que daria magnificamente a volta ao resultado até ao intervalo.
«Foi um penalti cedo demais!»
Isto já é demência. Mas não deixa de ter piada.
A transmissão televisiva não mostrou mas, no dia seguinte, os jornais contaram-nos que Manuel Machado, o treinador do Nacional, se virou para a bancada onde se acomodavam os adeptos do Benfica e contemplou-os com um rijíssimo manguito no momento em que Djanniny reduziu para 2-3.
Machado foi instado a explicar o seu gesto no fim do jogo e explicou-se bem. Não gostou de ouvir as tropas forasteiras brindar com «olés!» a exibição valorosa dos jogadores do Nacional quando o resultado estava num confortável 3-1 a favor do Benfica e ainda faltavam muitos minutos por jogar.
Lamento se ofendo os espíritos mais sensíveis do benfiquismo mas, neste episódio, estou do lado de Manuel Machado. Também não gostei dos «olés». E, aliás, nunca gosto desse comportamento arrogante e vexatório. Cantar «olés» é cruel. A crueldade é sempre detestável.
Julgo que os próprios jogadores da equipa que está por cima, e neste caso era a do Benfica, não gostam, por razões muito válidas, de ouvir os seus adeptos humilhar em coro os seus colegas de profissão que estão do outro lado.
Manuel Machado, ainda a propósito do seu manguito, censurou os «olés» em função dos orçamentos das duas equipas. Fez notar a disparidade e o sem valor daquele tipo de celebração quando estavam em campo duas equipas com níveis de vida e privilégios tão opostos.
Mais uma vez lamento aborrecer os meus consócios e amigos mas, neste pormenor da crueldade versus orçamento, também estou do lado de Manuel Machado.
Quanto ao manguito, considero-o um gesto muito português. E é tudo o que se oferece dizer sobre este episódio funchalense.
CALCULO que em Inglaterra, onde reina o Special One, já chamem ao nosso Jorge Jesus o Special Three e com todo o cabimento depois do grande momento cómico que foi a sua explicação em língua inglesa para o facto, amplamente documentado, de ter mostrado três dedos ao treinador do Tottenham que se chama Tim Sherwood e também terá o seu mau feitio.
Na noite de quinta-feira última, depois de o Benfica ter vencido o Tottenham em Londres por 3-1, uma plêiade de comentadores e de opinantes imparciais, como se impõe, lavou a vitória e a bela exibição do Benfica durante os 90 minutos de White Hart Lane com as ânsias de motim do treinador do Benfica que, bem ao seu estilo, provocaram meio minuto de folclórico caos à beira das quatro linhas.
Gostei? Não, não gostei.
Foi curioso, no entanto, assistir aos debates sobre o assunto. Havia, ao que parece, um crime que precisava de ser lavado. Só que o crime não era o comportamento do nosso Special Three. O crime que precisava de ser lavado era o da autoritária vitória do Benfica no campo de um adversário que, em termos de orçamento, está para o Benfica como o Benfica está para o Nacional da Madeira. E para isso serviu que nem ginjas o momento não singularmente destravado do nosso treinador.
Foi com esta ideia que fiquei.
Travões nisso, mister!
Entretanto passou-se uma semana e hoje à noite o Benfica recebe o Tottenham para o jogo da segunda-mão dos oitavos-de-final da Liga Europa. Faço votos para que ninguém se magoe porque importante, verdadeiramente importante, é o jogo que temos no domingo contra uma equipa valorosa de um emblema histórico, a Associação Académica de Coimbra. E a Briosa é que é do nosso campeonato.
O resto são peaners.
Na verdade, o Benfica tem tudo. Só não tem é comparação.
JOSÉ MEDEIROS FERREIRA era um homem admirável que gostava de futebol por uma questão filosófica e era do Benfica por uma questão política. Não estou a inventar. Foi ele próprio quem mo disse inúmeras vezes.
Fomos, durante duas décadas, vizinhos do lado no antigo Estádio da Luz. No novo Estádio da Luz passamos a ser vizinhos da frente. Fomos sempre próximos em muitas coisas, em muitos lugares, em muitas situações. A coisa não se reduziu apenas ao Estádio da Luz. O que, só por si, já teria valido a pena mas que seria, e não foi, um imenso desperdício porque o Medeiros Ferreira tinha muito mais para oferecer do que o incomensurável amor pelo seu clube. Foi com enorme tristeza que recebi a notícia da sua morte. Recordo-o na política, na universidade e no país. Recordo-o no estádio novo e no estádio velho, recordo-o no bairro. Hoje passei pela Císter e não entrei. Fui tomar café a outro lado."
Leonor Pinhão, in A Bola
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