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quinta-feira, 14 de março de 2024

O Benfica tem um problema e não consegue resolvê-lo


"... e também não parece esforçar-se muito para travar os comportamentos dos seus adeptos radicais nos jogos europeus

Durante os próximos dois anos vai pender uma pena suspensa sobre o Benfica na venda de bilhetes para os seus adeptos nos jogos fora das competições europeias, no que deve ser lido como um indício de que a corda está a esticar tanto que não faltará muito para a UEFA castigar severamente o clube, incluindo a possibilidade de fazer jogos à porta fechada. Já faltou mais.
Os episódios de mau comportamento de benfiquistas têm sido recorrentes e deviam envergonhar os seus dirigentes, com Rui Costa à cabeça. O que ocorreu em Milão na época passada na partida frente ao Inter e o que se verificou em San Sebastián antes e durante o banho de bola que a Real Sociedad deu às águias são imagens que se aproximam de um radicalismo enraizado nalguns países de Leste e que têm produzido duras punições a partir de Nyon.
Não há como negá-lo: o Benfica tem um problema com os seus adeptos mais extremistas e não parece saber resolvê-lo. Em parte porque também não parece muito empenhado em tratar do assunto, tanto do ponto de vista interno como da defesa da imagem para o exterior. Depois do que sucedeu no País Basco, por exemplo, esperava-se no mínimo que a Direção das águias agisse com punho de ferro, tentando saber, um a um, quem andou a espalhar terror nas ruas e no novo Anoeta e agisse em conformidade; e por outro lado uma ação de relações públicas também teria sido uma decisão feliz em nome da credibilidade na vez de um seco pedido de desculpas em forma de comunicado que terminava com um argumento a inspirar grandeza: «Felizmente não há feridos a registar.» Pinto da Costa não diria melhor.
Este é um tema que passa muitas vezes pelos pingos da chuva porque se dissolve sempre no que aconteceu dentro das quatro linhas, mas é muito mais relevante do que meras notas de rodapé. Porque não é um problema de circunstância, mas algo muito mais estrutural. E que devia ser encarado com menos desculpas e mais ação.
O Real Madrid, por exemplo, acabou com os lugares cedidos à claque Ultras Sur. Já lá vão 11 anos desde que Florentino Pérez se fartou. Em substituição entraram os Grada Fans (aqueles que se vestem todos de branco atrás de uma das balizas do Santiago Bernabéu), que para merecerem o direito de ali estar têm de assinar um contrato em que se dispõem a cumprir uma série de requisitos. Que não são nada mais que regras de bom senso. Quem se portar mal é expulso, simples. E que se sabia, desde 2013 os merengues não deixaram de ter apoio e ganharam umas coisinhas: cinco Champions, três Mundiais de clubes, quatro Supertaças europeias, três campeonatos, duas Taças do Rei e quatro Supertaças de Espanha.
Tudo se resume a uma questão de querer. Honra seja feita a Frederico Varandas, que sofreu ao enfrentar a claque mais representativa do Sporting, retirando-lhe uma série de privilégios que alimentavam uma série de práticas que pouco ou nada tinham a ver com os interesses do clube.
No momento em que o líder da claque do FC Porto, Fernando Madureira, se encontra detido por atos ligados à própria claque, entrámos definitivamente numa era em que os clubes portugueses têm de abandonar vícios do século passado e lembrando, doa a quem doer, quem realmente manda. Antes que passem mais vergonhas."

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