"Poderíamos dizer que ficou tudo na mesma na luta pelo primeiro lugar, o que, sendo verdade em termos pontuais, não corresponde à realidade por ficarem, agora, só a faltar duas jornadas para a meta. Ter-se-á, pois, de dizer que o Benfica ficou ontem, com a goleada (mais uma) ao Portimonense, um pouco mais perto do 37, embora ciente de que o FC Porto - que respondeu também com vitória gorda ao Aves em semana dificílima -, embora pareça já algo descrente, não entregará o título de borla.
Claro que dois pontos, quando faltam apenas seis, seria vantagem suficientemente confortável para que, noutras alturas, os adeptos reservassem, até, o Marquês. Mas (além da coisa já ter corrido mal pelo menos uma vez...) a verdade é que não tem parecido a águia sentir-se lá muito confortável nesta pele de líder isolado, que lhe parece ter, até, feito mal: à péssima entrada em Braga segui-se, ontem, uma hora muito sofrível diante do Portimonense. Há mérito do conjunto algarvio, sim, mas parece haver também no Benfica uma tentação inexplicável, e pouco vista em jogos anteriores, para deixar andar e ver o que dá, que já quase lhe custou caro em duas ocasiões.
Costuma apelar-se, nestas alturas ao estofo de campeão. Será, talvez, demasiado exigi-lo a equipa que tem como grandes referências miúdos incapazes de disfarçar a pressão do momento. Mas tem compensado, este Benfica, essa falta de estofo com uma indiscutível alma de campeão, que, se bem usada, por Bruno Lage, pode até ser suficiente para festejar no final. Começando, se calhar, por fazer a equipa esquecer que pode empatar um jogo, entrando em todos para ganhar em vez de para controlar. Porque já percebeu que é na vertigem do risco que a águia se sente melhor."
Ricardo Quaresma, in A Bola
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