"Felizmente que os meios audiovisuais de hoje permitem com que fiquemos com um conhecimento mais perto da realidade vivida no início dos anos 60 no futebol em Portugal. O maior legado de Eusébio é o que ele irá transmitir a futuras gerações. Aqueles que nunca o viram jogar ao vivo aperceberam-se da magia deste génio imortal através das repetidas imagens, fotografias, dos muitos golos e de momentos ímpares na sua carreira. Eusébio era a arte do futebol na sua máxima expressão. Há imagens que são verdadeiros documentos históricos - para lá da força do remate, capacidade de aceleração, Eusébio proporcionou fotos de rara beleza, por vezes em situações quase acrobáticas, solto no ar, destemido, provocador para os adversários e intelectualmente honesto na linguagem muito própria do futebol.
O Benfica e Eusébio estão equiparados na sua grandeza. Um fez crescer o outro e quando o Rei deixou de jogar continuar a ser grande. A maneira como ele não se deixou iludir pelo sucesso na dimensão planetária conquistada pelos quatro cantos do Mundo conferiu-lhe aquele estatuto ímpar. A agilidade, poder de arranque, drible, o remate poderoso faziam as delícias dos adeptos, principalmente os do Benfica, depois os da Selecção Nacional e, por fim, da comunidade futebolística internacional. Eusébio enchia os campos de futebol, as ruas e dava alegrais sem se pôr em bicos de pés. Não era actor para esse filme. Ele sabia, melhor do que ninguém, o que valia, o que representava e tinha tanta confiança em si próprio que pedia autorização para marcar as grandes penalidades em finais europeias.
Os campeões têm essa linguagem, por vezes difícil de compreender, que é tornarem as coisas difíceis em muito simples. Como se isso fosse fácil. Não estamos a falar de intuição, pois se isso fosse verdade só daria resultado meia dúzia de vezes. Aquele toque de classe ficou até ao fim. E só quando faleceu, tal foi o rosário de memórias, é que o povo português, dos mais novos aos mais velhos, compreendeu a verdadeira dimensão universal de quem nasceu para ser artista.
Ainda bem que, hoje, o mercado televisivo não se confina apenas a um canal. Eusébio entrou de rompante pelas nossas casas e tivemos oportunidade de rever como ele enganava os guarda-redes. E os amigos também."
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