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quarta-feira, 31 de maio de 2023

Efab⚽lação (31) O espanhol à Benfica


"Alejandro Grimaldo marcou um golo e chorou no último dia em que envergou a camisola do Benfica, encerrando oito épocas de brilhantes serviços, em que foi tolerado e subestimado, raramente idolatrado, mas entregou sempre alto rendimento, estatísticas ímpares e temperamento indomável. Grimaldo foi um jogador à Benfica, mas com o “defeito” original de vir de Espanha.
Despediu-se com a melhor época de sempre e terá sido o melhor do plantel ou, pelo menos, o de performances mais equilibradas e regulares, nunca se escondendo ou alijando responsabilidades, mesmo quando a desconfiança dos adeptos pudesse recomendar uma atitude defensiva e de discrição.
Da secular rivalidade ibérica faltava a referência de um nome que ligasse os dois países a partir de lá. Grimaldo assumiu finalmente essa embaixada e será, no futuro, o “espanhol” de uma história que vem plantando heróis nos sete cantos do Mundo, em pouco mais de 40 anos de abertura do clube aos jogadores estrangeiros.
Por causa de uma brincadeira de mau gosto no balneário, quase foi cancelado pela febre dos bons costumes que vem condicionando os clubes a partir da imbecilidade das redes sociais e suas réplicas nos painéis deseducativos das televisões. Sete anos de benfiquismo de primeira linha postos em causa pelo desejo de ir de férias uma semana mais cedo - a falta de respeito. Depois de três títulos, centenas de jogos, milhares de quilómetros de corredores e sprints, dezenas de golos e passes decisivos, descobria-se que era pequeno, não sabia defender e não tinha categoria internacional.
Quando a última época começou, ele estava na câmara de ejecção do Seixal. A um ano do termo do contrato, procurou-se afanosamente uma transferência de recurso, para diminuir o prejuízo, a que ele se opôs com valentia e determinação, vislumbrando no profissionalismo do novo treinador a melhor oportunidade para recomeçar do zero, depois de a opinião publicada e as más épocas da equipa terem, mesmo, dado cabo da sua reputação.
Há precisamente um ano, Grimaldo era o conveniente espanhol expiatório. Mas com a confiança renovada por um novo timoneiro, não demorou a reimpor-se, na equipa e no campeonato, silenciando a maledicência e percorrendo, sem vacilar, o trajeto delineado para o ano da despedida: as melhores estatísticas de sempre, na Liga e na Europa - oito golos, 13 assistências, uma participação decisiva a cada três jogos -, e a reconquista do título, ao mesmo tempo que negociava o futuro profissional noutras paragens, longe da tradição e da dimensão planetária do Benfica, mas adequado aos seus desejos de mudança.
Na última jornada, a oportunidade de executar uma grande penalidade e fazer um derradeiro golo de despedida, atropelando a rotina hierárquica de João Mário e a oportunidade de aumentar a soma de Gonçalo Ramos, mostrou uma vez mais a faceta irreverente e corajosa do valenciano, enfrentando o monstro do Terceiro Anel com risco de uma despedida canalha, à espanhola, com vaias e lenços brancos, se lhe falhasse a canhota naquele momento de extrema emoção e nervosismo - que extravasaram em lágrimas e orgulho ferido no meio dos abraços da equipa e da rendição dos 60 mil.
O tempo dirá como será difícil ao Benfica substituir um dos seus melhores laterais de sempre, o tempo dirá quão bom ele foi ao longo destes oito anos. Um lateral determinante, líder, vencedor e que penou, paciente e laboriosamente, para conquistar o reconhecimento que tantos outros no mesmo palco alcançaram e desfrutam eternamente com muito menor esforço e dedicação."

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