"Eusébio desapareceu fisicamente, mas o seu legado irá acompanhar-nos para sempre, como sucede com as personagens que são imortais. Porque uma coisa pode discutir-se, mesmo quando se sabe perfeitamente que da discussão nunca nascerá a luz, e essa é se Cristiano Ronaldo já é ou alguma vez será o futebolista que foi Eusébio. Mas outra é indiscutível: a de que Eusébio é e será sempre o jogador mais marcante da história do futebol português. Suceda o que suceder daqui para a frente.
Quando, em 1960, Eusébio chegou a Lisboa, o Benfica tinha ganho dez campeonatos e o Sporting outros tantos. O futebol português dividia-se entre estes dois polos, com a intromissão episódica do FC Porto, que vencera a prova por cinco vezes. No dia em que Eusébio deixou o Benfica rumo ao eldorado norte-americano, em 1975, a relação de forças tinha-se modificado radicalmente, com 21 campeonatos para o Benfica e 14 para o Sporting: o FC Porto nunca foi campeão com o Pantera Negra no activo.
O que se passou com Eusébio foi uma mudança de paradigma como nunca mais se viu em Portugal, nem provavelmente se verá, porque a indústria que se instalou no futebol não se compadece com a permanência num país periférico como o nosso de um jogador com predicados como os que ele apresentava. Velocidade, potência, um remate portentoso de força e colocação, resistência ao choque e até humildade: tudo isso eram atributos que Eusébio tinha em doses muito superiores aos dos seus contemporâneos.
A juntar a isso, Eusébio tinha pelo Benfica o amor que um filho tem pelos pais. A história do livre direto que, pelo Beira-Mar, não quis bater às redes encarnadas, que ele mesmo me contou, numa tarde, num dos restaurantes do Estádio da Luz, já chegava para o provar. Mas o maior serviço que Eusébio prestou ao Benfica depois de deixar de jogar foi de magistério de influência:numa noite invernosa, apareceu com Manuel Vilarinho e virou umas eleições que as sondagens inclinavam para a recondução de Vale e Azevedo. Nessa noite o Benfica guinou e a finta de corpo foi Eusébio que a fez."
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