"O rap da arbitragem
“50 Cent, how it feel to rob an industry nigga?
So we rob and steal so our ones can be bigger”
O “rapper” 50 Cent diz que a sua música de lançamento, “How to Rob” (“Como roubar”), escrita em homenagem a um bandido de Brooklyn, N.Y., conhecido por essa alcunha, devia ser entendida como uma piada e não como uma ameaça, tentando adoçar o azedume que provocou na concorrência.
É impossível não me remeter à crueza lírica do poeta nova-iorquino sempre que assisto ao esforço de árbitros talentosos para apresentarem enredos controversos, mal acompanhados ao ouvido pela música desafinada do VAR de ocasião.
A Realidade da Arbitragem Portuguesa (RAP) é também uma piada, obscena e sem graça, mas igualmente uma ameaça. O fosso que vai cavando entre a realidade e a ficção das competições expressa-se semanalmente na divergência entre os que ocasionalmente se aproveitam dela e os que abominam serem circunstancialmente prejudicados, numa cacofonia histérica e imperscrutável, uma babel suburbana onde ninguém se entende - como no roteiro da violenta guerra verbal entre os “rappers” de Nova York.
Há quem defenda que a arbitragem do futebol é boa se o árbitro acertar 95 por cento das decisões e que devia louvar-se tal proeza em vez de contaminar o ambiente mediático e a esfera desportiva com queixas e insídias a respeito da margem “residual” de erros. A questão insanável é que a justa avaliação da gravidade de um erro de um árbitro pode ter uma latitude tão vasta como a diferença de peso entre uma moeda de 5 cêntimos e outra de 50: quem sofre é quem acredita.
Por isso, julgo ser a margem de asneira, involuntária ou provocada, que as autoridades continuam a permitir a razão de todos os problemas de credibilidade do futebol nacional, de que os árbitros e os dirigentes são os parentes malditos. O acumulado de falhas graves, cinco por cento hoje, mais cinco amanhã, com consequências endémicas pela repercussão mediática, quanto mais alto for o nível competitivo das equipas, devia gerar passos atrás na carreira dos juízes, um pouco como o sistema de pontos das cartas de condução.
Um árbitro que faça o que se viu esta semana nos jogos de uma fase adiantada da Taça de Portugal não devia poder voltar a dirigir jogos de equipas de topo nos meses mais próximos, obrigando-se a aulas de reciclagem na respectiva escola, como é obrigatório para os relapsos do volante. Mas, pelo contrário, aposto os meus 5 cêntimos em como algum deles acabará premiado com uma excursão à final do Jamor.
Deixar um árbitro voltar ao campo de elite depois de cometer um ou mais erros de lesa-futebol em jogos de capital importância não é piada, é uma ameaça crónica que nunca vai permitir encontrar uma solução, por pressupor a impunidade garantida por qualquer entidade superiora, mas obscura. Como nos versos de Curtis James Jackson III:
“50 cent, como te sentes ao roubar um mano da indústria?”
“Então, roubamos para que os nossos possam tornar-se maiores”."
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