"A enchente na Luz na noite de quarta-feira era, mesmo antes do jogo com o Bayern, mais do que a celebração da expectativa dos adeptos relativamente a um jogo de futebol. É certo que o próximo desafio juntava ao Benfica, a atravessar um início de época difícil, mas muito prometedor, aquela que será, talvez, nos dias que correm, a mais poderosa e mais eficaz equipa do mundo que, nesta temporada, com um conjunto de jogadores notáveis - em que a veterania e a experiência se aliam à juventude, à força física e a uma dinâmica colectiva extraordinária -, para levantar um sistema de jogo extremamente eficiente, inteligente e produtivo. Em vista portanto, os adeptos tinham a antecipada garantia de que se perspectivava uma 'grande noite europeia'. Das antigas. E foi mesmo o que aconteceu.
Nestas circunstâncias, a memória histórica do Benfica e dos Benfiquistas - ou seja, aquilo a que hoje, mediaticamente, se costuma designar como o nosso 'ADN colectivo' e que, dantes, definíamos como a nossa 'mística'... - acorda em nós aquela íntima e fortíssima convicção nas vitórias 'impossíveis' que na década de sessenta do século passado surpreenderam o mundo do futebol e fundamentaram a dimensão universal do Glorioso. Evidentemente que essa terá sido a razão fundamental para que uma enorme multidão viesse ver o grande jogo.
Em todo o caso, outros motivos determinaram a enchente do maior estádio do país. Um, de ordem meramente circunstancial (espera-se), tendo que ver com a forma atabalhoada e reveladora de um profissionalismo barato, como uma nova operadora de direitos televisivos 'entrou' no mercado português, revelando, afinal, tão pouco respeito pelo interesse dos seus putativos clientes espectadores de TV como a atitude que anteriormente já caracterizava os seus pacientes subscritores, tendo agora a merecida paga por parte da nova concorrente que, mediante uma oportuna blitz concorrencial, literalmente, lhe roubaria os direitos de transmissão e distribuição da Champions - um dos mais suculentos bifes do negócio... Este novo player, ao se lançar no mercado, revela-se mal preparado e incompetente para atender às volições e expectativas do público. Sem ter divulgado devidamente as condições de acesso ao seu sinal, nem ter negociado, a tempo e horas, com as três distribuidoras mais conhecidas - NOS, Altice e Vodafone, a nova operadora deixaria desesperados todos os incrédulos amantes do Benfica e do futebol, que, longe do estádio, ainda nem sequer tinham 'no ar' uma Rádio Benfica para ir seguindo as incidências da partida... A muitos Benfiquistas, só as centro e noventa Casas do Benfica lhes valeram para poder ver a partida na TV.
O outro motivo para a grande lotação de quarta-feira, no entanto, era bem mais profundo. Luís Filipe Vieira, na Tapadinha, dias antes, na histórica estreia oficial da equipa feminina sénior, dera o mote:
'Temos um património sem igual e uma estratégia que causa inveja a muita gente. Em vez de copiar, imitar e seguir os nossos passos, atacam-nos e entram por outros caminhos... Mas quanto mais atacam fora do campo, mais força vamos ter!'
Depois disso, nesta quarta-feira à noite, com a sua massiva presença, mais de sessenta mil Benfiquistas deram a primeira e mais importante reposta uniram-se para apoiar a sua equipa de elite, a jogar bem, muito bem, o melhor possível, perante a mais forte equipa do mundo... Uniram-se na sua fé inquebrantável, mas uniram-se, sobretudo, porque enquanto vêem os nossos jogadores a jogar olhos nos olhos diante dos outros, também não esquecem que, fora das quatro linhas e no portugalzinho do ministério público, da federação de vaidosos, da liga penteada com brilhantina e de árbitros do futebol de praia, o Benfica continua a ser miseravelmente perseguido e atacado."
José Nuno Martins, in O Benfica
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