"Na senda da expiação estratégica do antes distraído PS, há muitos mais intervenientes que gostaríamos de ouvir. Mas o caso de silêncio do presidente do Sporting é, porventura, ainda mais ensurdecedor e faz temer o pior
O surto de “vergonhites” várias que varreu Portugal nos últimos dias – aliado às notícias recentes de mais governantes a serem investigados por actuações absolutamente condenáveis e que já eram, para quem quisesse ver, evidentemente lesivas dos interesses públicos, ligadas à proliferação indiscriminada e economicamente ruinosa de PPP contratadas pelo governo PS, e outras especialidades cá do burgo – convida a reflexões várias sobre alguns dos personagens deste enredo e a forma como chegámos onde chegámos.
Nesta parte, Maria João Marques, no “Observador”, relembra, e muito bem, que apesar do momento introspectivo a que o PS de uma maneira geral passou a dedicar-se, ainda não ouvimos de Jorge Sampaio a expiação da sua grande culpa por se ter farto do “gajo” que os portugueses haviam eleito e ter escancarado as portas de São Bento ao agora mal-amado e “envergonhante” ex-primeiro-ministro.
Na senda de uma expiação estratégica que antevê o provável desastre do julgamento que passou de tema da justiça a óbvio engulho político do antes distraído PS, há muitos mais intervenientes a quem se gostaria de ouvir uma palavra sobre a criação da criatura da qual foram os criadores.
Sampaio é só um, mas há muitos mais.
Aliás, quem será que hoje, pondo em perspectiva casos tão semelhantes quanto díspares como Manuela Moura Guedes e a compra da TVI, ou o ataque ao jornal “Sol”, para falarmos um pouco de imprensa; da OPA da PT às rendas da EDP, Tagus Park, da REN e CP e outras no Face Oculta; da instrumentalização da Caixa e do BCP, da Parque Escolar e das PPP, da Cova da Beira, da licenciatura ao domingo e das interacções do governo e governantes com empresas privadas e seus grupos, consegue, sem dúvidas razoáveis, não acreditar agora naquilo que o MP de Aveiro deslindara já em 2009 e onde vislumbrara indícios do “crime de atentado ao Estado de direito”.
Quem se tenha dado ao trabalho de ler a entrevista do também ex-procurador- -geral da República conselheiro Pinto Monteiro não consegue deixar igualmente de se espantar com a candura com que este exibe o seu alegado desconhecimento e não pode deixar de perguntar-se de que forma o que o senhor magistrado de Aveiro já via, e hoje é cruelmente claro, lhe pode ter passado tão inacreditavelmente ao lado.
Mesmo que fosse só incompetência ou falta de jeito, de intuição ou de perspicácia, os factos, se vemos bem, aconselhariam o senhor ex-PGR a alguma vergonha também pelo resultado ou, no mínimo, pela falta de atenção.
Neste rol de notáveis que nos devem uma explicação ou um acto de contrição também cabe o conselheiro Noronha do Nascimento, celebrizado, muito mais do que pela argúcia e inteligência dos seus arestos, pela decisão de mandar destruir as escutas das intersecções em que o procurador de Aveiro encontrava já os fundamentos do que é hoje, em parte, a vasta acusação já conhecida do então primeiro-ministro, José Sócrates.
É difícil de acreditar, partindo do que se sabe hoje, e atendendo ao que o referido procurador logo intuiu, que as referidas escutas não contivessem, pelo menos, indícios mínimos, que um julgador avisado e experiente não vislumbrasse já, daquilo que hoje é claro e abundantemente vertido factualmente para a acusação da Operação Marquês.
Fica por explicar também – veremos o que os novos processos nos trarão – de que forma, de repente, naquele governo, só Sócrates, Pinho e parece que mais três podiam gerir, sem suspeitas, desconfianças, críticas ou cumplicidades, todos estes (muitos) assuntos.
O processo de expiação parece estar ainda pela rama, e é difícil conceber a catarse do nosso sistema político sem a expiação da culpa por acção ou omissão, mais ou menos negligente ou apenas incompetente, das pessoas que, podendo, nada fizeram para travar em tempo o que os seus deveres funcionais lhes impunham.
Pelo mau serviço que fizeram à nação, muitos pedidos de desculpas e uma admissão de culpa e vergonha estariam, se vejo bem, perfeitamente alinhados com a ordem do dia e, portanto, manifestamente em falta.
Mas não só.
O novo caso de silêncio, porventura mais ensurdecedor pelo imediatismo e histórico conhecidos, é o que se nota da parte do conselho directivo do Sporting Clube de Portugal e da administração da Sporting Futebol SAD na pessoa do seu presidente.
Depois de um enfadonho e, esse sim, “chato” monólogo que o presidente ofereceu aos sportinguistas na Sporting TV, onde falou sobre a “chatice” de Alcochete, e a enorme bondade dos avisos todos que deu aqui e ali – como quem nunca nada instigou nem incendiou o rastilho de que este fim era inevitável – relativamente ao estado do futebol português, uma parte muito importante dos valores que os sportinguistas identificavam como matriz da sua diferença relativamente a outros emblemas está a ser consumida no imediatismo da voragem das sucessivas notícias sobre corrupções, detenções e buscas.
Tudo sob o desaparecimento suspeito, cúmplice e ensurdecedor do aprendiz de feiticeiro, antigo costumado incendiário e paladino das virtudes, que entretanto emudeceu e desapareceu, remetendo-se ao estranho e invulgar silêncio das últimas horas e que só pode fazer temer o pior.
De notar, não obstante, que no meio da sua última comunicação pública à Sporting TV (onde se esqueceu de uma palavra de conforto aos trabalhadores do clube que não defendeu e de quem se esqueceu, para falar apenas das virtudes das suas anteriores intervenções em vários fóruns), Bruno de Carvalho profere a estranha afirmação de que o crime veio para ficar na vida dos sportinguistas, que a ele devem habituar-se. Esperam os sportinguistas que não fosse isto aquilo a que se referia…"
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