Parabéns? Porquê?

"A minha cultura desportiva passa por reconhecer a qualidade do adversário sempre que ela se justifique. Não só não é o caso quando falamos do principal campeonato de futebol em Portugal como a competição ainda tem meia dúzia de jogos por disputar. Logo, parece-me bastante cedo para estender a passadeira vermelha e, ainda mais descabido, reconhecer qualquer tipo de superioridade ao rival. Têm mais pontos e mais golos marcados, certo. Nada a dizer, são factos. Tudo o resto é opinião, cada um tem a sua, mas seria bom que, antes de falarem, olhassem para outros factos importantes. Exemplo: um campeonato em que o ainda líder do mesmo foi altamente beneficiado com extensos períodos de compensação, grandes penalidades duvidosas, erros publicamente assumidos por parte da arbitragem, foras de jogo escandalosos e expulsões perdoadas. Só mais um facto para juntar à lista, talvez o mais importante: o perdão bancário, a concorrência desleal, que foi oferecido a uma equipa que, sem ele, teria de ter vendido as peças mais importantes do plantel.

Se, porventura, o nosso rival tivesse demonstrado uma superioridade em campo inatacável, dou-vos a minha palavra de honra de que estaria aqui a dar os parabéns - mas só e quando as contas estivessem fechadas, nunca antes. Não é o caso aqui, como se viu nos recentes embates entre o Glorioso e o Sporting CP, na Luz ou no Campo Grande. È por isso estranho que, aquando da última derrota do SL Benfica, alguns benfiquistas tenham querido parecer moralmente superiores, parabenizando (verbo tão querido a Paulo Autori) o rival, entregando de bandeja o título. Os mesmos que, semana após semana, atacam sem dó nem piedade Roger Schmidt e alguns jogadores do plantel, que exigem a conquista de todos os pontos e de todos os títulos em todas as competições, são os primeiros a deitar a toalha ao chão. Estranha cultura desportiva, essa."

Ricardo Santos, in O Benfica