"Será que o famoso treinador amaldiçoou realmente o Benfica?
Béla Guttmann estava no Benfica havia três épocas consecutivas, uma exceção à regra, pois nunca tinha optado por estar tanto tempo seguido no mesmo clube. Vencedor de duas Taças dos Clubes Campeões Europeus, dois Campeonatos Nacionais e uma Taça de Portugal, foi com tristeza que a massa associativa recebeu a notícia de que o treinador húngaro ia sair do Clube, em Junho de 1962.
Sob a orientação de outros técnicos, a equipa 'encarnada' foi finalista em duas finais europeias, em 1963 e 1965, o que levou a que surgisse entre os adeptos a crença de que só Béla Guttmann voltaria a fazer com que o Benfica se sagrasse campeão europeu novamente.
Foi sob uma aura de misticismo que o 'feiticeiro' - uma das suas alcunhas, 'de que Guttmann fez questão em não gostar, pois ele não é nem nunca foi bruxo' - regressou ao Benfica na época de 1965/66. Apesar de não ter conquistado títulos, o mito não desapareceu totalmente, reforçado pelo próprio Béla Guttmann, que defendia que o Benfica só voltaria a chegar ao topo europeu se adotasse os seus métodos, o que não teria acontecido nessa temporada.
Após as suas duas passagens pelo Benfica, o técnico demonstrou constantemente o seu apoio e apreço pelo Clube, vindo a falecer em 1981. Se após a final europeia de 1968 não foram encontradas referências à 'maldição', este termo tornou-se comum na imprensa após a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus que decorreu 20 anos depois. Várias pessoas recordaram posteriormente conversas privadas com o Guttmann, aludindo a desabafos ou previsões do treinador, mas sem lhe conferirem propriamente um cariz de condenação. Carismático e enigmático, Béla Guttmann é uma figura envolta em mistério, mas como o próprio disse: 'Dos meus bolsos é que ninguém tirará dois títulos de campeão europeu'.
Aproveite a oportunidade de celebrar a conquista do bicampeonato europeu na exposição temporária Benfica no Topo da Europa, até 30 de Junho, no Museu Benfica - Cosme Damião."
Lídia Jorge, in O Benfica
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