"1. Uma coisa é certa, alguns dos mesmos que, apenas há uma semana, nos envergonhámos de ver o golfar sentenças de morte a jogadores e treinadores campeões voltam a ser, agora, aqueles que tecem as loas das certezas absolutas com que afinal se moldam as mais pequenas e desprezíveis estórias da grande História do Sport Lisboa e Benfica. O adepto do Futebol tem quase sempre duas caras: tanto vai de rosto triste como chega de alegre face.
2. Mais de ansiosa amargura das derrotas à transbordante euforia das vitórias e conquistas vai um átimo. E, muitas vezes, um golpe de asa. Ou, mesmo, um sopro de sorte. O que faz e compõe a magia e a fortuna de um desporto mais do que centenário não é um algoritmo simples de montar ou resolver. Tanto mais que o rendimento de cada atleta, aqui, tanto o faz depender do trabalho de uma equipa inteira, com os diversos técnicos que os comandam, com os suplentes todos e com as estruturas que estão ali para o defender e apoiar, como, na hora do jogo, também tem de ser ele próprio singularmente contributivo do desempenho colectivo de todos os companheiros juntos.
3. A quem podem ser verdadeiramente assacadas as culpas de um apagão? Ou, tirando o caso excepecionalíssimo de um Eusébio, a que jogador (ou treinador) sozinho poderia, mais apto ou mais estúpido que fosse, vir atribuir todas, mais mesmo todas, as exclusivas razões de uma noite de triunfo de uma equipa?
4. Esse tempo, infelizmente, já acabou. Eu próprio me dei (sorte a minha!) a assistir a centenas delas, neste longo trajecto de vida de que me orgulho, no meu Benfica... Mas isso já foi chão que deu uvas. E uma coisa é certa: cada vez parece mais claro que esse tempo de todas as culpas, como o de todos os méritos exclusivos no Futebol, passou. De vez. Não existe mais.
5. Muito menos nestas circunstâncias em que estamos afundados: a ver o Futebol por um canudo; com estádios de acessos proibidos; e com palmas e assobios de sonoplastia forçada. Raios partam o vírus!
6. Nem os deuses do Futebol - que sempre gostaram de nos pregar as suas tão características 'partidas'... - têm mão no tema: a bola, sendo redonda, nem sempre cumpre a trajectória mais apetecível; a a morfologia de cada atleta perturba-se, por vezes, no lance mais inócuo; um centímetro de relva mais crescida basta para adormecer o ritmo de um jogo... E, além de um árbitro sem pulmões, sem talento técnico (ou de espinha mesmo erecta), pode inclinar o campo de jogo de uma parte para outra, hoje, toda a mal enjorcada tripulação arbitral, armada de microfone e câmaras como nunca dantes, vir 'ajudar' também, e tão determinantemente, à festa das inconsequências e maldades que, em especial no futebolizinho à portuguesa, mais castigam os competentes e sustentam os perversos.
7. Resta assim, quando ganhamos ou perdemos, para bem da saúde mental de cada um dos que gostamos mesmo do Benfica e do Futebol, mantermos incólume esta perspicácia de conservar sempre intacta a confiança e intocável o orgulho nos símbolos que nos unem - o nosso Emblema, a nossa ideia de Glorioso Clube, e deixar inapelavelmente de fora aqueles que (sem se perceberem!) persistem em se pôr de fora, porque preferem jogar o venenoso jogo dos incapazes."
José Nuno Martins, in O Benfica
Perspectivas, de quem está dentro enviando recados para os de fora !!! Só que esse olhar tem a ver com os óculos que usa, diferentes perspectivas, assumem a cor das lentes em conformidade com os interesses.
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