"Como categoria de análise sociológica e filosófica, a noção de vulnerabilidade é complexa. Nas últimas décadas, esta noção conheceu uma certa projecção, partindo das ciências biomédicas e ambientais (a gestão de riscos naturais), para ganhar, progressivamente, o campo das ciências sociais e, mais amplamente, no discurso político-mediático, prestando-se a uma certa confusão. A vulnerabilidade corresponde a uma fragilização. A noção de grupos vulneráveis faz referência a questões sociais, relacionadas com: a idade, o sexo, a condição social económica, a etnia, a condição física, a condição psicológica, entre outras. No âmbito das vulnerabilidades, encontramos a exclusão social e a pobreza.
O desporto tornou-se uma espécie de “palavra mágica” em todos os domínios. Ele é chamado a contribuir no processo de inclusão social. Mas, não existem resultados tangíveis sobre a integração e/ou inserção social pelo desporto. Certos autores avançam que o poder de integração através do desporto e das actividades físicas é real. Outros autores consideram que é mais simples e menos oneroso ocupar os jovens do que se dedicar a resolver o verdadeiro problema da pobreza, do desemprego e de outros défices em modelos de identificação. O desporto destinado a ocupar os jovens, no sentido de evitar que eles façam asneiras, encontra-se incluído nas estratégias de prevenção destinadas à “ineficácia”, nomeadamente no quadro da “regulação da delinquência”. Apesar de existir um consenso geral sobre as potencialidades do desporto na criação de redes de sociabilidades, a exclusão no desporto continua a manifestar-se. As políticas desportivas europeias têm definido orientações para a promoção do desporto inclusivo, nomeadamente com o financiamento de projectos. Em termos académicos, o tema é marginal. É um novo campo de investigação. Em forma de conclusão, podemos atribuir três estatutos ao desporto:
1) O desporto como finalidade em si. Certos profissionais consideram que o desporto não visa lutar contra o desemprego ou os problemas de saúde. Ele é considerado como uma prática cultural que importa que todos tenham acesso. E aqui pode-se falar de inclusão pelo desporto mais do que inclusão social pelo desporto.
2) O desporto como um meio de captar o público. Neste caso, os profissionais fazem do desporto um instrumento, e não uma finalidade, permitindo um compromisso com o acompanhamento social necessitando de outros suportes. Pode ser utilizado pelos trabalhadores sociais junto de públicos jovens problemáticos.
3) O desporto como uma ferramenta de transformação do indivíduo. Esta perspectiva, mais ambiciosa, consiste em levar o indivíduo a praticar uma modalidade desportiva, susceptível de o transformar. Esta transformação pode incidir sobre:
a. O seu lugar social. Trata-se de integrar ou de inserir (o desporto pode inserir profissionalmente);
b. As disposições sociais. Trata-se de educar, de socializar (o desporto pode ajudar na reconstrução da autoestima, na relação com as regras, normas);
c. A conformidade com o que se espera do mundo social. Aqui, trata-se de controlar ou disciplinar (o desporto pode ajudar na luta contra o desinteresse profissional (temos as corridas promovidas pelas empresas, reforçando a coesão das equipas)."
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