"Desta vez não foi estranho e não soaram alarmes e reacções. Bruno Lage manteve, na sua segunda deslocação na Liga Europa, a rotação que tão bom resultado deu em Istambul e a previsível consequência disso, esperávamos todos, seria outra boa exibição encarnada, com a habitual fome de conquista a ser a cereja no topo do bolo que é a ideologia de Lage. Isto aquando foram conhecidos os convocados, com as já habituais ausências de alguns pesos pesados. No entanto, quando o onze titular foi dado a conhecer, as razões para nova estranheza aumentaram. Afinal de contas, na Turquia, as águias desenharam um onze que não faltaria aos preceitos de uma ideologia que preza, e tem como seu ponto mais alto (apesar de todos os outros serem de um nível bastante alto) as transições defensivas e ofensivas. Assim, com Gedson e Krovinovic, nas alas, a fazerem companhia a Florentino e Gabriel, foi difícil não pensar nas dificuldades que teria o Benfica para se soltar e acelerar o seu jogo.
Obviamente, o estratega Bruno Lage teria que ter algo na manga, pois alterações deste calibre não se farão sem se ter em conta as características do jogo que esperava o Benfica na capital da Croácia. E se recordarmos as declarações do técnico do Dinamo – quando lhe foi ditada a sorte do sorteio para os oitavos da UEL – as mesmas continham algo que pode ajudar a explicar a preferência por dois elementos com características de espaço central onde, normalmente, actua pelo menos um elemento acelerador. Disse Nenad Bjelica que a sua equipa abordava os jogos da Liga num estilo mais de posse, enquanto que os jogos europeus eram enfrentados numa toada mais de transição. E se assim era, no plano teórico, fazia bem Bruno Lage em preparar a equipa, o onze e as características dos jogadores que o compunham, para um jogo diferente daqueles que foram, por exemplo, os dois jogos contra o Galatasaray – equipa que, recorde-se, parece usar a muita bola que tem, não para ferir o adversário mas para se ferir a si mesma.
Tudo certo no plano teórico, tudo errado no simulador de realidade que foi Zagreb. O Dinamo não começou tão baixo como se previa e o Benfica pouco partido pôde tirar dos desvios de Gedson e Krovi para as faixas. Assim, não obstante a melhor oportunidade dos encarnados ter sido criada nos primeiros minutos (por Grimaldo, que aproveitou algum espaço na zona… central), os restantes minutos que concluíram esta 1.ª mão roçaram um bocejo apenas interrompido por algo não muito especial – como foi a conquista da grande penalidade que haveria de dar a vitória ao Dinamo. E deu a vitória porque o Benfica andou, o restante tempo que havia para jogar, à procura de si mesmo, da sua melhor versão. Algo que se complicou quando Seferovic – elemento com características que fazem Bruno Lage, em condições normais, a nunca prescindir dele – se lesionou, deixando o técnico, e os adeptos, a pensarem em como suprir essa ausência da melhor maneira.
Mesmo notando-se algumas deficiências de posicionamento, a defensiva do Benfica pareceu denotar também alguma falta daquele sentido de armada (bem posicionados, juntos e fortes no duelo) que Lage incutiu em todos os seus jogos
E se estamos bem recordados, aquando do fecho de mercado, Bruno Lage foi peremptório a refutar a teoria que o Benfica não teria os avançados suficientes para atacar a 2.ª volta. E com Seferovic lesionado e com Jonas em Lisboa, Lage optou por dar a vaga a Cervi (deixando Rafa, o outro avançado nas suas contas, mais algum tempo no banco) e deslocar Krovi para trás de João Félix – que passou a ser o elemento mais adiantado da equipa. Dois problemas para resolver (falta de aceleração no corredor esquerdo e falta de profundidade na zona mais avançada); uma só substituição. Algo que, estranhamente, não mudou com a entrada de Rafa – que por estratégia – nunca pisou os mesmos terrenos de Seferovic, apesar de ser o único elemento no plantel que pode oferecer algo parecido ao que o suíço tem vindo a dar ao plano de Bruno Lage.
Um jogo que, assim, não passou daqueles simulacros de incêndio que chateiam um pouco nas grandes superfícies comerciais, mas onde ninguém tem que ser evacuado, nem tão pouco passar por reacções de pânico porque, aparentemente, não há razões para isso. E se algo poderá mudar, daqui em diante, poderá ser a ideia de Lage transformar estas deslocações europeias nesses mesmos simuladores de realidade, onde parte da espinha-dorsal da equipa fica em Lisboa. Sabemos que a dualidade Europa League/I Liga não será fácil de gerir, mas em algum momento o técnico terá de assumir a conquista das duas sem fazer aquilo que pareceu uma poupança manifestamente exagerada e acompanhada de uma mudança nas características dos jogadores que emperrou o habitual futebol fluido que tantos louros já mereceu nos seus dois meses como treinador principal do SL Benfica.
Dinamo Zagreb-Benfica, 1-0 (Petkovic 38′ g.p.)"
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