"O meu avô Guerra, que era minhoto e Benfiquista, costumava levar-me ao circo pelo Natal, no Coliseu dos Recreios. Mas houve um ano que me levou ao Campo Grande para ver o Benfica. Fomos de eléctrico, dos Restauradores ao Lumiar, e o meu avô disse-me que, se tivéssemos ido mais cedo, teríamos porventura encontrado uma ou outra das estrelas do Benfica que em dias de jogo viajavam para o campo nos amarelos da Carris.
Jogavam pelos nossos, entre outros, Jacinto, Moreira, Francisco Ferreira, Félix, Rogério, Julinho, Arsénio, e eu fiquei maravilhado com o que vi. De tal maneira que até acreditei que era especialmente para mim, que me estreava a ver Futebol a sério, que todos jogaram tão bem e pespegaram com seis golos ao Vitória de Setúbal, que marcou o ponto de honra quando já havia espectadores a sair do recinto.
Como era miúdo, e os adeptos me tapavam a vista para o campo quando se levantavam a festejar a equipa, contei a maior parte dos golos pelos gritos e aplausos.
Naquele tempo não se chamava hat-trick, mas Julinho marcou três, Rogério e Arsénio mais dois e do outro não me lembro.
Depois, como residia fora de Lisboa, passei a ver o Benfica só quando a equipa ia jogar perto de mim, no campo da Amoreira.
Mas agora, no Museu do Benfica, rememorei que aquele velho Campo Grande foi palco de algumas das maiores goleadas do Glorioso: 12-2 ao Porto, em 1943, 7-2 ao Sporting, em 46, 13-1 à Sanjoanense, em 47, ainda hoje recorde das goleadas no campeonato nacional, 9-0 ao Vitória de Setúbal em 1954, na despedida do Campo Grande.
Sei que aquele foi um Natal redondo, com 11 de cada lado, e no fim ganhou o Benfica. Mas não sei se tudo se passou assim mesmo ou se isto foi em grande parte sonho de uma quadra de Natal."
João Paulo Guerra, in O Benfica
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