"Não sou avesso à mudança, isto que fique claro. Sou apoiante do uso das tecnologias para salvaguardar a verdade desportiva, vejo com bons olhos a reestruturação das principais divisões de futebol em Portugal e acredito que tudo deve evoluir na vida, seja a língua (sim, adotei o Acordo Ortográfico há já uns anos), seja o nosso pensamento em relação aos temas mais fraturantes da sociedade. Há, no entanto, uma coisa que não entendo: o breakdance nos Jogos Olímpicos de 2024.
Foi notícia na semana passada, este género de dança vai ter a sua estreia como modalidade olímpica em Paris, daqui a quatro anos. Ainda não se realizaram os Jogos de Tóquio (23 de Julho a 8 de Agosto de 2021), e já se está a pensar como tornar mais mediático o espetáculo de 2024. Como se houvesse um problema de audiências com aquele que é o maior evento desportivo o planeta...
No Japão, vamos ter, como modalidades convidadas, basebol, haraté, escalada, surf e skate, e a minha estupefação já era aosgrande, mas breakdance em Paris? A sério? Nada contra quem interpreta esta arte de rua nascida na década de 1970, aliada à cultura do hip hop. Aliás, os seus grandes nomes são artistas de enorme qualidade, tanto fisicamente como do ponto de vista do entretenimento, mas isso chega para ser considerado uma modalidade desportiva? Ainda por cima olímpica? Tenho as minhas dúvidas.
Quem também me parece que poderia ter alguma resistência a esta decisão é um senhor que faria 157 anos daqui a 15 dias - nasceu a 1 de Janeiro. Falo-vos do barão Pierre de Coubertin, o grande impulsionador, no fim do século XIX, dos Jogos Olímpicos da Era Moderna. Morreu em 1937, aos 74 anos, e o seu corpo fo enterrado em Lausana, onde está sediado o Comité Olímpico Internacional. O coração, no entanto, rumou a outras paragens, tendo sido sepultado num monumento junto às ruínas da antiga cidade grega de Olímpia. Espero que, por estes dias, este ilustre cavalheiro e seu coração não se estejam a contorcer nas campas, ao ritmo do hip hop."
Ricardo Santos, in O Benfica
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