"Cavém iniciou a carreira de 'águia ao peito' a marcar golos, mas terminou a impedi-los
A versatilidade é das qualidades mais valorizadas no futebol. Um jogador que desempenhe várias posições com a mesma eficácia, que é raro, precisa ter um sentido posicional e conhecimento tático superior aos seus companheiros. Para o treinador, esse elemento é extremamente valioso pela diversidade de opções que lhe oferece. Domiciano Cavém era um desses elementos raros.
Após o verão conturbado de 1955, em que esteve com 'pé e meio' no Vitória de Setúbal, acabou por assinar pelo Benfica, a 26 de Agosto. Os 'encarnados' já estavam havia algumas épocas atentos ao jogador e, numa operação-relâmpago, chegaram a acordo com o Sporting da Covilhã, em que pagaram quase duzentos contos e cederam o passe de Pires aos serranos.
Parecia estar tudo a correr de feição para o avançado. No entanto, num dos primeiros treinos lesionou-se gravemente e teve de ser submetido a uma operação ao menisco, ficando afastado dos relvados por pouco mais de dois meses. Recuperou e jogou a primeira vez de 'águia ao peito', frente ao Valência, a 1 de Dezembro de 1955. Não acusou a falta de ritmo, marcou o golo da vitória e foi considerado um dos melhores jogadores em campo. A imprensa ficou rendida com a sua prestação e deixou o aviso ao treinador benfiquista, Otto Glória: 'tem de arranjar uma vaga na linha avançada'. O técnico acatou. Cavém, a extremo, destacava-se por ser 'fino no drible e decidido no remate'. Tornou-se num dos indiscutíveis no ataque 'encarnado' ao longo de seis épocas.
A 19 de Setembro de 1961, após o Benfica ter perdido a 2.ª mão da Taça Intercontinental, frente ao Peñarol, foi obrigado a disputar uma finalíssima. Por forma a reverter a derrota, Béla Guttmann inovou e colocou Cávem a médio. Apesar da derrota, o jogador foi bastante elogiado: 'a sua determinação de cumprir levantou o moral dos companheiros e encheu o sector confiado ao seu trabalho'. Estabeleceu-se na posição, sendo importante na conquista do segundo título europeu consecutivo, ao marcar um dos cinco golos dos benfiquistas na final, frente ao Real Madrid.
Na segunda metade da época seguinte, passou a alinhar como defesa-direito. Desempenhou a posição com a mesma eficácia das anteriores, disputando a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, contra o AC Milan.
Em três anos, Cavém disputou três finais europeias, em que jogou em três sectores diferentes. A sua qualidade e entrega dava confiança tanto ao treinador como aos adeptos, independentemente do lugar que iria ocupar.
Saiba mais sobre este extraordinário futebolista na área 23 - Inesquecíveis do Museu Benfica - Cosme Damião."
António Pinto, in O Benfica
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