Últimas indefectivações

domingo, 5 de julho de 2020

Sobre Chiquinho

"No dia de ontem surgiu um comentário nas redes sociais do Lateral Esquerdo perfeitamente normal em função da forma como o grande público olha para o jogo.

"É incrível como é que uma pessoa pode achar se um bom entendedor de futebol quando diz que Chiquinho tem mais qualidade que Pizzi. Aliás quando alguém afirma que Chiquinho é jogador para jogar num candidato ao título está tudo dito"

Tendemos a olhar para o jogo sem o perceber para lá do golo ou do último passe, e naturalmente que para (quase) todos fará sentido que Chiquinho tenha menos qualidade que Pizzi.
O que poucos entenderão é que para que esse último passe ou remate surja é necessário que a equipa tenha fluência no seu jogo ofensivo. Mais, para que uma equipa vença um jogo essa fluência é necessária. É praticamente obrigatório para quem quer vencer de forma sucessiva que tal esteja presente. São precisos muitos golos todos os jogos para compensar dezenas de perdas de bola que expõem a equipa e não só a impedem de chegar à baliza adversária, como permitem ao oponente crescer no jogo. Contra atacar, retirar tempo de jogo porque tem a bola fruto dessa perda.
Pequenos gestos incorrectos, relacionados com incapacidade para perceber o envolvimento e incapacidade para se ser eficiente tecnicamente quer na recepção quer no passe, emperram todo o jogo ofensivo da equipa.
E para que se possa ter alguém incapaz de ajudar com essa fluência, com esse jogo que se quer que aproxime a equipa da baliza adversária sem estar constantemente a voltar para trás porque alguém perdeu a bola, ou porque alguém não a perdendo recebeu mal, ou passou mal, mesmo que esse passe encontre o colega (mas no espaço errado, para o pé errado…) esse alguém tem obrigatoriamente de compensar com uma tremenda eficácia na zona de finalização.
É isto que separa Pizzi de Chiquinho. Os números enganam os menos atentos. Pizzi precisa efectivamente de marcar muitos golos (e marca-os!) para compensar tudo o resto no seu futebol. Já Chiquinho aproxima o Benfica de ganhar a cada toque que dá na bola, mesmo que não apareça nesses números.
Se ofensivamente as diferenças são notórias e óbvias, defensivamente mais se nota a diferença de nível entre um e outro. Por um lado podes sempre sair para o ataque porque nunca dará recuperação e o espaço tardará a ser fechado, do outro mesmo que não um primor, há disponibilidade para.
Para haver números é preciso quem alimente esses números. Se não forem alimentados não há. Já o contrário acontecerá sempre. Se alguém alimentar, os números surgirão. É como formar uma equipa com onze Mários Jardel.
Acredita que cada um dos onze faria quarenta golos por ano, ou será que num um deles chegaria aos cinco?
A simplicidade na forma eficiente com que toma cada decisão e permite ao Benfica chegar consecutivamente ao último terço, ou ai a ter condições para fazer golo, sem nunca expor a sua equipa aos seus erros por forçar a que tal aconteça, tornam Chiquinho o jogador mais diferenciado do Benfica, e o grande erro de Bruno Lage na presente temporada, que o tirou da equipa depois de um longo período só de vitórias com o médio / avançado em campo.
Enquanto uns forçam e perdem dezenas de bolas para ter um lance de notoriedade, outros fazem tudo bem. Colocam a equipa à frente da sua própria “fama”, mesmo sabendo que depois nem sempre têm o devido reconhecimento.

Dados WyScout:
Chiquinho
– 2 Perdas de Bola
– 88% Passes Certos
Pizzi
– 13 Perdas de Bola
– 77% Passes Certos
Dados sempre passiveis de desvirtuamento – Passe Certo nem sempre é um Passe Certo, se não vai para o espaço certo, para o colega certo, para o pé certo do colega certo! Não há dados que marquem ainda as más recepções que impossibilitam a equipa de criar."

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