"A posição onde a “Estrutura” errou seis vezes consecutivas.
Nos últimos dois anos, o Benfica despediu dois treinadores, mas não despediu um único elemento da “Estrutura” - o único que saiu, demitiu-se depois de se ter contratado Pedrinho à sua revelia. Ora, isto é um facto estranho, porque nos últimos dois anos, o Benfica contratou dezasseis jogadores para a equipa principal, três nunca se chegaram a estrear na equipa principal, seis saíram seis meses depois de serem contratados, outros dois já saíram entretanto e já só sobram cinco. Isto tudo foi acompanhado por um período onde saiu muita gente e onde no ano anterior (2017/18) se contratou muito pouco. Como é possível num clube onde quase 70% dos reforços dos últimos dois anos já não contam para a equipa principal, os únicos culpados do insucesso desportivo serem os treinadores? Não há clube no mundo que lute por títulos onde seis reforços saiam seis meses depois em dois anos. Não se pede que acertem 100% das vezes. Ninguém acerta 100% das vezes, mas falhar quase 70% também ninguém falha. O ex-líbris de tudo isto é a posição de lateral direito, onde conseguimos estar três anos consecutivos só com André Almeida, que diga-se, teve uma boa época no ano passado, mas tirando esse meio ano com Lage, foi bastante mediano-fraco. Aqui fica a Epopeia que tem sido a nossa lateral direita.
1. Primeiro Erro. Tudo começa no inverno de 2017. A “Estrutura” preparava-se para vender Nélson Semedo, Victor Lindelof e Ederson no verão e começou a alinhavar, e bem, os jogadores que poderiam substituí-los com alguma antecipação. Na altura havia um jogador ainda com idade de junior com passagens pela formação no Benfica que estava ser utilizado com regularidade pela Sampdoria na Serie A, Pedro Pereira. O Benfica contrata Pedro Pereira no mercado de inverno, seis meses antes de vender Nélson Semedo, e fica momentaneamente com três laterais direitos na equipa principal. Pedro Pereira ficou basicamente seis meses sem jogar, nunca desceu à equipa B, só se estreia pela equipa principal - único jogo oficial que fez pelo Benfica - na última jornada contra o Boavista. Começa a pré-época de 2017/2018 e Pedro Pereira nos amigáveis que faz não impressiona, bem pelo contrário. No segundo jogo da pré-época, Pedro Pereira joga na segunda parte e o Benfica sofre quatro golos na segunda parte numa derrota por 5-1 contra o Young Boys. A maioria dos golos a vir do lado direito da nossa defesa. André Almeida lesiona-se no fim desse jogo, Pedro Pereira fica com o caminho aberto para a titularidade, mas em dois jogos, Rui Vitória começa a optar por Aurélio Buta, que foi chamado de emergência da equipa B para o lugar de André Almeida.
2. Segundo Erro. Aurélio Buta tornou-se o lateral direito do Benfica por três-quatro jogos. Pedro Pereira já nem saía do banco. Mas os jogos não correram muito bem a Aurélio Buta que acaba por perder o lugar na segunda vez da pré-época que o Benfica leva cinco golos de alguém, neste caso, do Arsenal. E aí, a “Estrutura” começa a procurar um novo lateral direito. A meio de Agosto e com a época já a decorrer, o Benfica fecha a contratação de Mato Milos, um croata que já se tinha estreado pela seleção nacional. Mato Milos treina duas semanas com a equipa principal, nunca é convocado e acaba por ser emprestado ao Lechia Gdansk no último dia do mercado.
3. Terceiro Erro. Com o mercado quase a fechar, o Benfica apercebe-se que também não vai ser Mato Milos que vai assumir o lugar de Nélson Semedo, como tal, o Benfica tenta procurar um jogador por empréstimo num dos clubes “parceiros” e o Barcelona empresta-nos um dos piores jogadores que vi jogar pelo Benfica: Douglas, um brasileiro que na chegada ao aeroporto de Lisboa começa a falar em espanhol para os jornalistas. Douglas é o único jogador que eu conheço onde os highlights nos vídeos do YouTube são enganos - fintas onde escorrega, arrancadas onde consegue ganhar três-quatro ressaltos seguidos, etc. Douglas acabou por fazer onze jogos pelo Benfica, que deram cinco vitórias, dois empates e quatro derrotas.Tentámos devolvê-lo no inverno e o Barcelona não o quis de volta.
4. Quarto Erro. À quarta tentativa, depois de gastar três milhões de euros em Pedro Pereira e quatrocentos mil euros em Mato Milos, o Benfica decidiu gastar finalmente algum dinheiro na posição de lateral direito contratando Achraf Hakimi. Estou a brincar. Claro que não. O Benfica contratou um lateral direito do Den Haag em final de contrato. Tyronne Ebuehi acabou por ser chamado pela Nigéria para o Mundial da Rússia 2018, onde jogou pouco tempo. Quando veio para o Benfica fez os últimos dez-vinte minutos de quatro jogos na pré-época, lesionou-se com gravidade e acabou a época antes de ela começar. Dois anos depois tem sete jogos na equipa B e outros sete nos S23.
5. Quinto Erro. Com a lesão de Ebuehi, o Benfica volta a ter que arranjar um lateral direito por empréstimo na recta final do mercado. Inicialmente ainda teve Luís Pinheiro, lateral direito da equipa B, a aparecer nas convocatórias mas no final de Agosto lá consegue o empréstimo do francês Sébastien Corchia. Corchia foi o primeiro jogador de qualidade que tivemos na lateral direita em dois anos. Mas pouco contou para Rui Vitória. Fez menos jogos que Douglas (oito), a maioria com Bruno Lage. No final da época, o Benfica decidiu dar mais uma hipótese a Ebuehi e acabou por não accionar a cláusula de opção por Corchia.
6. Sexto Erro. No início desta época Ebuehi voltou a ter uma oportunidade na equipa principal. O Benfica estava tão confiante em Ebuehi que deixou Tomás Tavares ir ao Europeu S19, prova onde não foram Tiago Dantas e Nuno Tavares, porque o clube quis que fizessem a pré-época com a equipa principal. Faz sentido deixar um jogador que faz a época quase toda com a equipa principal ir ao Europeu S19 e não deixar ir um jogador da equipa B (Tiago Dantas)? Claro que não faz. E não faz, porque o Benfica queria apostar em Ebuehi e não em Tomás Tavares. O que acabou por acontecer foi diferente. À segunda semana de treinos, Ebuehi já estava praticamente fora da equipa e João Ferreira acaba por ser chamado de emergência. Com a lesão de André Almeida, com Tomás Tavares no Europeu, Salvio também fez alguns jogos a lateral direito e começamos a época com Nuno Tavares, um lateral esquerdo, a jogar a lateral direito. André Almeida nunca recuperou a forma da época passada. Tomás Tavares ainda estava muito verdinho. E foi assim que tivemos uma época onde até o Douglas teria sido titular por mérito.
Foram seis erros consecutivos. Ao todo foram três más contratações, dois empréstimos que não deram em nada e quatro promoções da equipa B/S23 à pressa sem necessidade e com poucos resultados. Passaram pela equipa principal nos últimos três anos dez laterais direitos. No mesmo período período, no outro lado passaram cinco (Alex Grimaldo, Eliseu, Nuno Tavares, Yuri Ribeiro e Marcelo Hermes). No entanto, nesse período despediram-se mais treinadores do que elementos do scouting e da “Estrutura” que decidiram contratar ou promover estes jogadores todos."
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