"1. Muitos (e bem) apressaram-se a criticar o Liverpool por anunciar o recurso ao lay-off para os funcionários (que não os jogadores), mas ouvi poucos elogios na hora do anúncio do recuo (e com pedido de desculpas!), algo que achei ainda mais notável. E para quem não sabe, o Liverpool costuma pagar férias em Tenerife aos funcionários do centro de treinos de Melwood e respectivas famílias (cerca de 150 pessoas entre crianças e adultos).
2. Entre avanços e recuos, entrevistas, comunicados, desmentidos, esclarecimentos e ameaças, o presidente da UEFA parece uma barata tonta. Mesmo no caos e sob enorme pressão perante a ameaça do colapso financeiro da indústria, exige-se mais de alguém com tanta responsabilidade.
3. Entre o silêncio dos inocentes e o ruído dos indecentes, percebo que tanto para a UEFA como para as ligas nacionais o plano não pode ser não ter plano, mas também não pode entrar-se no jogo de atirar datas à parede como se fossem barro, para ver se colam. Quem manda é o vírus, aceitem.
4. Com 4 mil milhões de pessoas fechadas em casa (mais de metade da população mundial), o futebol teima em sair à rua. Se os jogos sem público não forem suficientes, pode sempre tentar-se o futebol sem contacto ou um dérbi entre não infectados e imunes, pode ser que as TV's comprem os direitos. Tudo vale a pena quando a alma do negócio não é pequena. Nem a vergonha.
5. A maior parte das equipas alemãs já se treinam. Os jogadores tomam banho em casa, equipam-se por turnos em balneários separados e teimam-se em grupos de 5 e a pelo menos metro e meio de distância uns dos outros. Chamem-lhe o que quiserem, mas isto não é o regresso do futebol, é uma experiência de laboratório.
6. Parece-me que há aqui uma certa confusão quanto à sabedoria popular. Ela diz-nos que enquanto há vida há esperança. Não confundir com enquanto há futebol há esperança."
Gonçalo Guimarães, in A Bola
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