"Não compreendo todo o dramatismo que o FC Porto coloca em cada jogo. Tanto stresse competitivo acaba por afectar os seus jogadores
Há muito campeonato para se jogar, mas a jornada de sexta-feira foi santa para o Benfica. Quando o FC Porto, que jogava em casa, esperava que o dérbi lhe desse uma aproximação ao líder, tudo correu ao contrário. O Benfica venceu em Alvalade, o SC Braga foi ganhar ao Dragão e, de repente, o Benfica chega a uma vantagem de sete pontos sobre o seu mais directo rival, o FC Porto. O que quer dizer que o jogo de Alvalade, para já, não valeu três pontos, mas... seis.
Não há dois jogos iguais, nem há dois campeonatos iguais, mas vale a pena lembrar que, na época passada, quem tinha sete pontos de avanço era o FC Porto e, no entanto, foi o Benfica quem ganhou o campeonato. O que quer dizer que não há campeões a meio da corrida. Pode haver favoritos, isso sim, é uma evidência digna de La Palice que está mais perto do título quem tem mais pontos.
De qualquer forma, verdadeiramente impressionante a série de vitórias, e de golos, conseguida por Bruno Lage. Há factos e dados objectivos que não são discutíveis. O caso deste Benfica Lage é mesmo impressionante.
FC Porto desiludido. Pior do que isso, destroçado. Francamente não entendo o dramatismo que os portistas colocam em cada jogo. Não é fácil conseguir o melhor resultado dos seus jogadores quando se coloca tanta pressão psicológica, tanto stresse competitivo. Há momentos em que resulta, em que os jogadores se superam, mas também há situações, como as de ontem, em que, claramente, afecta os jogadores e diminui significativamente a equipa.
O caso dos dois penáltis falhados é paradigmático. Poder-se-á dizer que é um azar dos Távoras. Não foi só azar. Cada jogador do FC Porto joga sobre brasas e isso queima. Olhem para o Danilo, que mal fez ele a Deus para merecer tanta injustiça da parte dos seus?
Sérgio Conceição gosta da intensidade, da paixão pelo jogo, da noção quase patriótica da vitória,que deve ser conseguida da base da superação, da coragem e do sofrimento. Ora, isso é muito louvado pelos adeptos, mas a verdade é que é também muito desgastante para uma prova como um campeonato. Não é uma final, nem é uma corrida de cem metros. É uma maratona e o sofrimento como modo de vida é cansativo, mais do que isso, é extenuante.
SC Braga de Rúben Amorim é uma equipa que merece especial atenção. Pelo conceito, pelo modelo de jogo, pela personalidade. No Dragão, sobretudo depois de ter sofrido o golo do empate, quando se poderia esperar que os minhotos procurassem defender o pontinho, foram ambiciosos e afirmaram a sua nova condição de equipa grande. O Sporting que se cuide, que este Braga tem tudo para fazer uma segunda metade do campeonato surpreendente. Já não vai a tempo de discutir o título, mas vai muito a tempo de lutar pelo pódio e, sinceramente, não vejo, neste momento, melhor equipa para atingir o terceiro lugar.
Sporting em crise. A dezanove pontos do primeiro lugar, a meio do campeonato, não é uma situação confortável. Silas tem um trabalho ingrato pela frente, sobretudo depois do adeus de Bruno Fernandes. Uma inteira equipa para refazer. Mas refazer como? Onde estão os jogadores para fazer a transformação? Como costuma dizer o meu amigo Toni, que sabe e tem experiência grande de futebol, de burros não se fazem cavalos de corrida. Ninguém consegue esse milagre. E assim sendo, o melhor que o Sporting poderá fazer é pensar no futuro, sem se deixar contaminar pela ideia de ganhar no presente. Pode parecer doloroso pensar assim, mas é a única forma de salvar o Sporting.
Dentro da Área
A grande vitória do andebol
A jornada da Liga dominava tudo. Grandes jogos e grandes emoções. Oxalá que não tenha passado como nota de rodapé a magnífica vitória da Selecção de Portugal frente à Suécia (vice-campeã da Europa) em Malmo. Não foi, apenas, uma vitória num jogo. Foi uma vitória do andebol e do desporto português. Já uma vez aqui disse que os portugueses não têm bem a noção do que pode significar uma Selecção do andebol português vencer a França e a Suécia. Suponha que a Selecção de futebol vence a Espanha e a Alemanha. É isso.
Fora da Área
Os professores e as escolas
Há falta de professores nas escolas. O facto tornou-se constatável por evidência física. A solução foi a de permitir que os professores de inglês dessem português, talvez com Shakespeare em vez de Camões e o Hamlet em vez dos Lusíadas. E os professores de geografia, passam a dar história, talvez a história da República. Foi o que nos levou à criminosa menorização do professor na cadeia do sistema de ensino. Em causa está a formação dos estudantes. Em causa está o futuro do País."
Vítor Serpa, in A Bola
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