"A não ser que o mundo exploda, a tecnologia, as novas coisas que podemos fazer com as que temos, nunca anda para trás. O VAR também não. Em todo o caso, tem, além das limitações, algo que parece um atropelo ao jogo: os foras de jogo assinalados por poucos centímetros.
Recordando que a lei do fora de jogo foi instituída para evitar jogadores plantados no ataque, o que tornaria o jogo algo sem meio-campo, sem construção e logo sem interesse, o VAR passa por cima deste simples objectivo. Era, na essência, para evitar o abuso e não propriamente o uso, tanto que em caso de dúvida a própria regra recomendava que nada se assinalasse. Um fora de jogo de 5 centímetros confirmado por máquina é contra a ideia do próprio fora de jogo, desvaloriza o movimento ofensivo e a honestidade das jogadas construídas dentro do espírito do futebol.
Ora, como a tecnologia não anda para trás, só vejo uma solução para o mal, criar uma razoável zona de amortecimento, uma faixa de 50cm, por exemplo, dentro da qual um adiantamento não se assinala. Fica a sugestão.
Tal como está, um fora de jogo se 5 ou 6cm deixa-me deprimido. É de uma insensibilidade para com a verdade e para a natureza das coisas que se torna quase cómica. É não querer saber. Lembra-me aquela cena no Play it again, Sam, quando Woody Allen, num museu aborda uma mulher lindíssima, porém a revelar-se algo triste:
- Que faz no sábado?
- Vou suicidar-me.
- Então e na sexta?"
Miguel Cardoso Pereira, in A Bola
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