"De falta de oportunidades para caçar ingénuos desprevenidos, ignorantes e labregos, não nos podemos nós queixar... Basta que se fale de uma qualquer nova atitude do Benfica, inovadora ou mais ou menos preocupante para a vidinha corriqueira que o espaço público não seja imediatamente submerso pelo tsunami do despautério, pelas vagas da mais petulante ignorância ou, até, pela onda da idiota 'útil' (que por vezes também alastra cá para dentro do nosso próprio universo...).
Por isso, já que no reino do 4x4x2 tudo corre como dantes, com o quartel-general em Abrantes e o Benfica em primeiro... volto ao mesmo assunto de há duas semanas para procurar ser um pouco mais explícito nas minhas interpretações pessoais acerca da OPA, que tanta inveja e preocupação causou nos quintais dos vizinhos.
Mas vamos lá, então, começando pelo principio.
A avaliar pela performance do Benfica e pelas desgraças dos congéneres nestes últimos anos, é hoje plenamente consabido que o Glorioso está a deixar de 'caber', tanto estrutural como desportivamente, no estrito mercado sociodesportivo em que nasceu. E bem se percebe já que o Benfica tem de ousar passar a medir-se por outras dimensões e que, para tanto, seja inevitável que se apetreche convenientemente para toda uma outra natureza de desafios.
Em Maio de 2019, a consultora KPMG Internacional actualizou as suas avaliações de Janeiro de 2019 sobre os maiores clubes europeus de Futebol. Da renovada lista desse credível estudo anual de referência - The European Elite 2019 - Football Clubs' Valuation - consta (e já antes constava) o Benfica.
A metodologia de avaliação usada pela KPMG para a valorização de um clube de futebol fundamenta-se, como sempre, no prudencial conservadorismo e baseia-se no chamado Entreprise Value, cujo algoritmo conjuga factores financeiros com outros vectores patrimoniais específicos decorrentes dos stati organizacional e desportivo exibidos por cada clube na época anterior.
Segundo o estudo, exclusivamente dedicado aos 32 mais importantes emblemas europeus, à data de 1 de Janeiro de 2019, o SL Benfica estabiliza na 26.ª posição do ranking, mantendo-se naturalmente como única instituição portuguesa referida. A avaliação da Benfica SAD era aí fixada ente os 318 e os 348 M€, isto é, bastante acima dos actuais 115 M€ consagrados na Contas da nossa Sociedade Desportiva.
Ora, terá sido mediante análises de conjuntura relativa e global como as que a European Elite 2019 expôs que, entretanto, voltaram a despertar inusitados movimentos financeiros de grande envergadura em torno de emblemas prestigiados, como, por exemplo, o Lyon e o Manchester City, levando à rápida transacção de percentagens relativamente reduzidas do capital desses Clubes por valores estratosféricos.
Eu não sei, mas presumo... que também tenha sido a partir de idênticas análises conjunturais que a Benfica SGPS definiu a urgência da OPA voluntária e parcial anunciada há quinze dias, tendo como objecto muito preciso as acções da Benfica SAD que se encontram dispersas por pequenos investidores, porventura Sócios do Clube e, sobretudo, por terceiros, sendo estes de maior dimensão.
No final da semana passada, nunca intervenção informal na BTV - enquanto, provavelmente, a CMVM estará a estudar o processo de formalização da operação - o presidente Luís Filipe Vieira acentuava que o Benfica se encontra numa situação demasiado 'apetecível' para avanços hostis na esfera da alta finança internacional.
O adepto comum e o Sócio mais dedicado podem não estar a par de todas estas circunstâncias. Mas, afinal, o que diríamos nós daqueles a quem elegemos. Mas, afinal, o que diríamos nós daqueles a quem elegemos, se, de repente, nos víssemos feridos por uma OPA hostil que, por baixo preço e de sopetão, nos levasse a fatia actualmente não controlada dos 28% do capital da nossa SAD? Sem prejuízo dos cabais esclarecimentos que o prospecto da operação, devidamente validada pela CMVM, venha a trazer-nos, imaginemos, de modo laico, um dos cenários possíveis para o 'dia seguinte' a uma OPA bem-sucedida: desde logo na posse da quase totalidade do seu capital da SAD, o Benfica fica em condições de, por uma lado, bloquear para si a maioria definitivamente absoluta das acções. E, por outro lado, fica em condições, para negociar a seu bel-prazer a entrada de um autêntico Parceiro institucional de grande dimensão internacional e com inequívoca capacidade financeira e motivacional, disposto a fazer desenvolver, conjuntamente com o Benfica Dos Sócios, e o Benfica Do Século XXI.
De acordo com a minha interpretações estritamente pessoal e sem conhecer os verdadeiros termos em que a operação foi, ou esteja a ser, montada e oficialmente aprovada, creio que esse será, porventura, a única maneira de alavancar definitivamente um Grande Benfica devidamente apetrechado, a todos os níveis, para os enormes desafios internacionais do Desporto continental, cada vez mais próximos e urgentes e por isso cada vez mais definitivos...
De outro forma, ficaremos inevitavelmente de fora e, em breve, não nos restará, senão, continuar a tentar sobreviver em perda, no plano fatalmente inclinado do mais acabado romantismo...
Ou seja, diante da perspectiva que acaba de nos ser entreaberta, bem me parece que não podemos condenar-nos à pequenez dos outros. Conhecendo a nossa história e o legado que recebemos dos nossos Maiores, não nos podemos deixar reduzir para sempre, aos esforços cada vez menos bastantes que temos mantido, a duras penas, quando ao naming do Estádio, à venda da face das camisolas, ou aos mitigados patrocínios de duas ou três bancadas do Estádio, dos Pavilhões e do Benfica Campus e a mais uma bateria de imaginativas soluções pontuais que - depois de ontem nos terem erguido do soalho e nos terem conseguido pôr a sonhar - certamente não nos poderão ajudar, amanhã, a mais do que criar ilusões que até aqui nos orgulham e nos bastavam... Claro que a decisão provocou imediatamente a enorme ruideira mediática que se conhece: tendo em conta o impacto positivo que a OPA certamente pode representar e, sobretudo, as dramáticas consequências que se irão reflectir, com o inevitável afastamento dimensional definitivo relativamente aos desempenhos dos nossos rivais, outra coisa não se podia esperar.
E, por mim, porque democraticamente acredito na representatividade daqueles que os Benfiquistas elegem livremente, desde já afirmo que não hesitarei em me desfazer do meu próprio Património em acções da SAD. Fá-lo-ei #Pelo Benfica. E não posso deixar de recomendar vivamente aos meus Amigos e Consócios que o façam, também. Por presumir que a minha atitude contribui, quanto em mim cabe, para cumprir esse desígnio do Futuro que já está a bater à nossa porta!"
José Nuno Martins, in O Benfica
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