"Importa não esquecer que o videoárbitro é um projecto embrionário e, por isso, falível.
Ponto prévio: sou totalmente favorável à implementação da tecnologia no futebol. Reconheço que teria sido melhor se ela fosse implementada com mais tempo, tal como reconheço que o ambiente que se viveu na época passada justificou a opção de a introduzir no imediato. Sou igualmente da opinião que a videotecnologia repõe maior verdade desportiva, porque diminuirá muitos dos erros grosseiros. Importa não esquecer que este é um projecto embrionário e por isso, falível. Importa ainda não esquecer que os árbitros - agora também VAR - são estagiários nesta matéria e apesar de frequentarem um curso intensivo nos últimos meses, só agora concluíram a licenciatura e puseram mãos à obra.
Dito isto, permitam-me alguns conselhos generalizados e bem intencionados.
Caros árbitros, este é um projecto em constante evolução. O passado atesta-o (a versão original do IFAB já foi actualizada oito vezes) e o futuro o confirmará. Penso que há um passo importante para dar em breve: o de apertarem a malha. Sabemos que faz sentido a directriz para a mínima interferência e que a estão cumprir na íntegra. Mas a prática tem-nos mostrado, aqui e ali, que há algum excesso de zelo na altura de intervir. Vejam isto com outra distância: o que videotecnologia pressupõe é que se sirva o futebol, dando-lhe mais verdade. Isso significa que quando uma imagem mostra que há penálti, é porque há penálti. Quando mostra que uma entrada é violenta, é porque ela é violenta. Quando mostra que é grosseira, é porque ela é grosseira. Não pensem demasiado no tamanho da prova. Não é preciso que um erro seja visto da Lua para que possa ser corrigido: basta que exista. Essa mudança de chip vai beneficiar o futebol e libertar-vos dessas algemas apertadas.
Caros árbitros assistentes, a recomendação de não punir o fora de jogo (em caso de dúvida e/ou perigo potencial) faz sentido: mais vale anular, tardiamente, um golo ilegal do que interromper, precipitadamente, um que deveria acontecer. Mas, em vossa defesa e para bem do jogo, procurem calibrar essa bitola. É que a vossa principal missão continua a ser a análise do fora de jogo. Se ele existe, punam-no. Se ele acontece, assinalem-no. Depositar demasiadas certezas na videoverdade pode não ser sempre boa opção: pensem que poderá haver o dia em que um offside não assinalado dará lugar a uma falta ou canto e que daí nascerá um golo. É um dissabor a evitar.
Caros treinadores/jogadores: não se aproveitem da videovantagem. O encosto ao adversário na busca de um empurrão, a intromissão nas pernas do defensor para justificar a infracção ou o aparato da queda após um contacto provocado pode até iludir a videoanálise mas não vos prestigia nem vos define. Não é esse o espírito desta tecnologia. Ela pode até obrigar-vos a mudanças tácticas mas não deve descaracterizar a vossa essência e a vontade de vencerem com mérito.
Caro Duarte Gomes, caros comentadores, não se esqueçam de que já foram árbitros, jogadores, dirigentes. Sabem o que se sente e o que se vê em campo. Conhecem a dinâmica do jogo, a natureza dos contactos e a normalidade dos choques. Não se tornem em árbitros de laboratório. Não permitam que a vossa análise seja escrava absoluta de imagens repetidas até à exaustão. Mantenham, com sensatez e equilíbrio, a ponte entre a experiência vivida e a função que hoje desempenham.
Se cada um ajudar, todas conseguem."
Duarte Gomes, in A Bola
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