Últimas indefectivações

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Tanto saber que Portugal desperdiça...

"É muito mau para o futebol português a ostracização dos mestres, impedindo-se de transmitir aos mais novos o seu saber...

Foi mergulhado em afectos, bairradinos, conimbricenses, lisboetas e iranianos, que Toni entrou no clube dos septuagenários. Da personalidade única de Toni, a sua principal mais valia, já muito se falou. Mas ainda estará por explicar por que é que o futebol português, ao mesmo tempo que louva a figura consensual, lhe fecha as portas da profissão, onde continua a ser dos melhores. Há, neste momento, no nosso país, um capital de experiência e saber que está a ser desaproveitado (Toni, Calisto, Cajuda, Manuel José, Vítor Manuel, Artur Jorge, Jaime Pacheco, António Oliveira, entre outros...), correndo-se o risto de se retirar densidade à formação das gerações vindouras. Porque, o que estes homens sabem, não se aprende nos livros, é preciso lidar com eles para apreender a essência cultural e a matriz do futebol português, numa linha de evolução que terá começado em Cândido Oliveira, passando depois por Pedroto, Fernando Vaz e Mário Wilson, os mais importantes, mas também por Ferreirinha, Manuel de Oliveira, António Medeiros, Juca, Joaquim Meirim ou Quinito.
Procuro compreender os movimentos da sociedade, as tendências e as modas. E sei que é da tensão entre o moderno e o clássico que resulta a evolução sustentada, que vai para lá da espuma dos tempos.
Hoje, há muitos treinadores portugueses a dar cartas pelo mundo fora, desde José Mourinho, o porta-estandarte, a Carlos Queiroz, André Villas-Boas, Leonardo Jardim, Marco Silva ou Paulo Sousa, cada um deles considerado para os trabalhos mais apetecidos do planeta. E muitos outros afirmam-se, ainda que num plano menos visível, graças à estupenda formação receberam. Mas o que os torna especiais é a sagacidade táctica do treinador português, uma habilidade desenvolvida ao longo de muitas décadas e transmitida de geração em geração. Aquilo que temo é que, com a inexplicável ostracização de homens de saber futebolístico infinito, se perca o fio condutor que está na génese do sucesso; e que se comece a formar uma fornada de treinadores de aviário, capaz de debitar uns quantos lugares comuns e alguns neologismos redondos (porque não têm ponta por onde se peque...), mas que olham para o jogo e não percebem nada do que está a acontecer à frente dos seus olhos.
(...)"

José Manuel Delgado, in A Bola

4 comentários:

  1. Essa gente esta toda ultrapasada,so servem para comentadores.Ai e que podem dar o seu contributo.

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  2. Estou como o Red Atheist. Ouvir falar de Artur Jorge e Cajuda como capital desaproveitado dá mais vontade de rir do que outra coisa.

    Se calhar o capital desaproveitado até tem metade da idade e anda pelo CNS ou 2ª Liga. Veja-se o caso do Marítimo.

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