"Eusébio representou sublimemente uma expressão desportiva que deixou de ser norma. Onde o que contava era tão-só o futebol jogado. De paixão pura. Onde a iconografia era a do exemplo no trabalho e não a da imagem no mercado. Num tempo em que o sucesso não era apenas uma forma de aumentar a retribuição, mas uma compensação de quem sentia devotadamente a camisola que envergava. No seu tempo não se falava de marca, de manager, de merchandising. Falava-se de amor, suor e vitórias.
Por vezes, imaginava-o a jogar no século XXI. Não que tivesse sido jogador no tempo errado, mas para sublinhar a sua magia e talentos quase insgotáveis. Imagino o que teria sido mais em Eusébio e com Eusébio se, então, houvesse cartões amarelos e vermelhos que impedissem o massacre de que ele foi tantas vezes alvo por adversários incapazes de se lhe opor. Ou haveria jogos em que o adversário terminaria com alguns jogadores expulsos e Eusébio poderia expressar ainda mais a sua atracção pura, genuína, quase romântica pelo golo. Aquela jogada contra a Coreia, desde o meio-campo com 17 toques e vários derrubes é exemplar: além do penalty marcado, quantas expulsões haveria?
Eusébio foi lusofonamente inteiro: sempre português sem deixar de ser moçambicano. Foi sempre menino sem deixar de crescer. Foi sempre apaixonado pelo Benfica sem deixar de reconhecer o valor dos adversários. Eternizou o Benfica e fundiu-se com Portugal.
Eusébio: un nome que poderia estar num qualquer Dicionário de Língua Universal porque é intemporal e universal. Ultrapassou a onomástica e a geografia. Pertence ao mundo e tem significado próprio."
Bagão Félix, in A Bola
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