"Há heróis distinguidos por extraordinários feitos, heróis de guerra, heróis nacionais, heróis da Pátria. São heróis distinguidos em parada militar, por decreto presidencial, por designação de altos comandos. Passei os 10 de Junho da minha juventude a ver entregar medalhas e heróis falecidos em combate. Vinham as viúvas, com os filhos num negro de corvos, receber a distinção, desfeitas em lágrimas, em parte vertidas pela memória, em outra aparte vertidas pela raiva de uma guerra onde nem os heróis encontravam razões de glória. E passei também os 10 de Junho, depois do 25 de Abril, a ver desfilar a reprovável banalização dos louvores da Pátria oficial e cinzenta, que tudo confunde, desde os verdadeiros ilustres, a quem Portugal muito ficará a dever, até aos verdadeiramente banais, escolhidos por critérios inenarráveis.
Eusébio não é, certamente, confundível com um heróis de guerra, com um grande escritor, um grande cientista, um grande estadista. Pertence, apenas, e só, ao pequeno grupo dos heróis eleitos pelo povo. Não é verdade que o povo o tenha escolhido, apenas, por ter sido um genial futebolista. É preciso muito mais para merecer a escolha do povo. Às vezes, é mesmo preciso algo que só o povo sabe descobrir, mesmo quando não consegue definir.
Não me choca que Eusébio ganhe lugar no Panteão. Sinceramente, não me parece a melhor das ideias, mas admito que seja uma maneira de dar expressão nacional ao agradecimento pelo que Eusébio representou para Portugal e para os portugueses. E se outro mérito não tiver, será também uma forma dos portugueses conhecerem melhor a vida e a obra de quem lá está e de quem lá haverá de estar. Num dos casos, que eu cá estou a pensar, seria, aliás, uma deliciosa ironia."
Vítor Serpa, in A Bola
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