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segunda-feira, 17 de novembro de 2025

FPF: dos egos aos valores


"O ambiente no futebol português não é o melhor. No futebol nacional temos tido a capacidade de maltratar, de uma forma sistemática, o nosso produto, através de acusações e suspeições lançadas pelos dirigentes dos principais clubes nacionais. O momento é tão negativo que nem a Seleção Nacional nos consegue alegrar!

Seleção: o que se passa?
«Tudo o que podia acontecer mal, aconteceu»! E assim se justifica mais um jogo menos conseguido por parte da nossa Seleção. Não sei se alguém estava com grandes expetativas relativamente ao jogo de Portugal na Irlanda. É verdade que uma vitória carimbava a presença no Mundial de 2026.
Essa motivação estava presente, mas nem isso fez com que o futebol apresentado fosse diferente. Quem analisa os jogos de Portugal ao longo do reinado de Martínez não vê grandes mudanças.
O treinador espanhol pretende que a equipa jogue um futebol complexo, com os jogadores a mudarem, constantemente, de posição no terreno, a jogarem fora das suas posições e com muito pouca mecanização. A maior crítica que posso fazer a Martínez é que, ao fim de quase três anos à frente dos comandos da Seleção, os jogadores ainda não conseguem jogar de olhos fechados ou ainda não percebem o que o selecionador pretende a cada momento.
Não existe um ADN na nossa Seleção e não temos uma forma de jogar que tire proveito da enorme qualidade que temos. Durante estes três anos, tivemos dois bons momentos que foram as segundas partes dos jogos com Alemanha e Espanha na fase final da Liga das Nações.
Coincidência ou não, nas segundas partes desses jogos o selecionador descomplicou. Jogámos de uma forma mais simples, com jogadores a jogar nas suas posições. Todas estas constatações são ainda maiores quando olhamos para o lado e vemos uma Espanha (que individualmente não é superior a Portugal) que joga de olhos fechados, que tem um ADN definido, que tem um selecionador que não olha a nomes e que joga, com personalidade, um bom futebol. Ganha sempre? Não, mas a forma como aborda sempre os seus jogos transmite confiança aos jogadores, aos adeptos e gera receio nos adversários.
Analisando os factos, a realidade é que num grupo composto por seleções bastante acessíveis temos de esperar pela última jornada para carimbarmos a tão esperada presença no Mundial de 2026.

Estranho caso de Rui Jorge
Há algum tempo que pretendia escrever sobre o Rui Jorge. Esteve 15 anos na Seleção de sub-21. Não conseguiu ganhar nenhum título relevante. Para muitos os títulos são sempre o mais importante. No caso de Rui Jorge não me parece que se deva analisar o seu trajeto na FPF apenas pelos resultados, até porque, indiretamente, contribuiu para vários dos títulos que a Seleção A venceu.
Como? Através do seu trabalho (assim como da formação dos clubes), que permitiu que muitos jogadores chegassem à Seleção principal mais bem preparados. Destes 15 anos à frente dos sub-21, a Seleção que mais me ficou na memória foi a de 2015. Jogava em losango, com Bernardo Silva no vértice ofensivo, bem protegido por Sérgio Oliveira, João Mário e William Carvalho. Com essa Seleção fizemos uma grande caminhada até à final, onde perdemos nos penáltis.
Do trabalho de Rui Jorge o que me ficou na retina foi a forma como não teve receio de apostar na qualidade dos jogadores, independentemente de jogarem nas equipas B ou de serem muito mais novos. Com Rui Jorge o estatuto ficava à porta do balneário. Por exemplo, apostou sem receio em Bernardo Silva (que só jogava na equipa B) ou em Félix, quando este tinha apenas 17 anos e ainda não se tinha estreado na equipa principal do Benfica.
Rui Jorge teve ainda a virtude de descobrir jogadores que todos desconhecíamos e que foram determinantes para muitos títulos que conquistámos recentemente, como foi o caso de Raphael Guerreiro. É verdade que ao longo dos 15 anos em que foi selecionador nem todas as suas seleções apresentaram um grande futebol. Contudo, há algo que nunca faltou nas equipas de Rui Jorge e nos grupos que comandou: valores. Rui Jorge incutia e exigia respeito, compromisso, disciplina, trabalho, dedicação e superação. Numa idade tão precoce, acredito que o ex- selecionador de sub-21 tenha sido alguém determinante para que muitos jogadores chegassem muito mais bem preparados para singrarem na Seleção principal e nos seus clubes. A realidade é que Rui Jorge deixou a sua marca. Entendo que as instituições mais fortes são aquelas que sabem fortalecer os seus valores e que reconhecem e sabem agradecer a dedicação e o trabalho positivo dos que souberam dignificar a camisola.
Por este motivo, estranho a forma como a FPF se despediu de Rui Jorge. Não coloco em causa a sua substituição por Luís Freire (que também merece a oportunidade). O que coloco em causa é a forma como a FPF se despediu de alguém que esteve 15 anos à frente de uma seleção e que, indiretamente, teve um papel muito importante nos grandes êxitos que temos vindo a alcançar na Seleção A.
Fazer um comunicado a anunciar o novo selecionador e dedicar apenas três linhas a alguém que esteve 15 anos à frente dos sub-21 é desprezar as pessoas e o papel que tiveram no passado. Tudo isto ainda se torna mais ridículo porque desde que Pedro Proença assumiu a FPF já fez duas galas a distribuir prémios por toda a gente.
Será que não havia espaço para uma menção ao trabalho e dedicação de Rui Jorge? Onde está a coerência no reconhecimento do mérito e do trabalho das pessoas, quando se dá um prémio ao Presidente da República pelos serviços prestados ao futebol português (desconheço que serviços foram esses) e se deixa no esquecimento alguém com a influência que Rui Jorge teve? A forma como se esqueceu de Rui Jorge diz muito mais sobre Pedro Proença e a forma como lidera, ou pretende liderar, do que sobre o enorme contributo que Rui Jorge deixou na FPF.

A Valorizar: César Peixoto
Está a fazer uma grande época. À 11.ª jornada já tem a manutenção praticamente assegurada

A Desvalorizar: Mário Branco
O comportamento que teve frente ao Casa Pia não se enquadra nos valores de um clube como o Benfica."

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