"Sete Palmos de Terra, Six Feet Under no original, é uma das grandes séries de televisão dos últimos 20 anos. Nela seguimos os Fisher, família proprietária de uma agência funerária californiana, e as suas vidas de negócios purgativos, de desencontros e desamores.
Todos os episódios arrancam da mesma forma. Há rostos desconhecidos, a certeza de uma morte mais ou menos trágica e a entrega do incauto cadáver aos cuidados da Fisher & Sons, até ser sepultado… sete palmos abaixo da terra.
É aí, nesse ponto escuro e irrespirável, que passaremos a encontrar o bom nome do Sport Lisboa e Benfica, no improvável cenário (quero acreditar) da reeleição de Luís Filipe Vieira.
O vieirismo e a doença que lhe é associada, a vieirite, corroem os fundamentos básicos da instituição. Enterram-lhe a honra, esmagam-lhe a grandeza, afrontam-lhe a essência e a beatitude dos pais fundadores.
O cadastro do proto-candidato é admirável.
Em outubro de 2024, o antigo presidente das águias foi formalmente acusado pelo Ministério Público de corrupção ativa. O documento probatório garante que Vieira, ao lado do inseparável Paulo Gonçalves, terá desviado muitos milhões do Benfica para auxiliar os depauperados cofres do… Vitória de Setúbal.
A troco de quê? É isso que ainda se determina em sala de audiências.
Em maio de 2025, o mesmo Vieira – omnipresente em tribunais e processos judiciais – esteve no Tribunal Central Criminal de Lisboa a responder à teoria do MP, que o envolve num esquema de pagamentos fictícios a uma empresa informática externa ao Benfica. O famoso Saco Azul.
O Estado terá sido lesado em 500 mil euros, o clube da Luz provavelmente em mais.
Se isto é um homem habilitado a presidir à maior instituição desportiva do país, então a distopia que habitamos em 2025 supõe-se irreversível. Não restará a Vieira e respetiva entourage um pingo de tino?
A memória é curta, por contraponto ao currículo de Vieira com a Justiça. Um floreado riquíssimo de processos perturbadores.
Detido pela Polícia Judiciária em julho de 2021, e alimentado a frango frito nos calabouços, o antigo dirigente já lidava por esses dias com a Operação Lex, o Mala Ciao, os Vouchers, os Emails e o indescritível E-Toupeira – se não se recordam deste delírio judicial, há AQUI esta versão para totós, básica e acessível.
O rol de façanhas deste senhor é admirável. Não é uma opinião, é um facto sustentado por investigações fundamentadas do Ministério Público português.
Uma pessoa sensata, equilibrada, estaria envergonhada e a suplicar por sossego. Mas Vieira é de casta distinta, a mesma de um antigo primeiro-ministro.
Inverte o espelho e acusa o acusador, dobra o dedo e aponta-o em direção contrária, usa a vitimização e o berro para argumentar contra o bom senso e o facto puro e duro.
O Benfica vive dias decisivos, tem muitos nomes credíveis na corrida à presidência e não precisa deste regresso a um passado de tiques autoritários e de relações perigosas com a banca, a política e os mais diversos agentes desportivos.
Se isto é um homem com lugar no futebol português, façam ao nosso campeonato o devido elogio fúnebre e levem-no à agência funerária mais reconhecida de Hollywood.
PS1: recordam-se do ‘Rei dos Frangos’? Amigo de Vieira há mais de 50 anos, acompanhou o camarada atrás das grades no processo de há quatro anos. Em dezembro de 2019, o empresário de aviário era o maior acionista da SAD do Benfica e reforçou a fortuna pessoal ao comprar ações a um euro para vendê-las a cinco. Tudo através da Oferta Pública de Aquisição (OPA) lançada sob os bons auspícios do velho companheiro de negócios. De forma resumida, o MP considerou que Vieira e o senhor das aves concertaram posições num «esquema ardiloso» para quintuplicar um investimento aparentemente normal. Não era. A CMVM concordou e chumbou a operação. Mais um exemplo do amor platónico e eterno de Vieira pelo Sport Lisboa e Benfica.
PS2: Vieira ainda enfrenta o risco de expulsão da condição de sócio do Benfica. Em setembro de 2019, o então presidente e alma sacrossanta, incensada por acólitos despidos de todos e quaisquer preconceitos, apertou o pescoço a um associado numa AG do clube. O episódio consta da ata oficial da magna reunião. Do alto do trono tudo lhe parecia inferior e vago. Talvez pela cegueira provocada pelo poder excessivo.
PS3: não me esqueço da obra construída e dos títulos conquistados pelo Benfica na era-Vieira. É com a velha estratégia vieirista que os benfiquistas pretendem voltar a vencer?"

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