"Perante o cenário em presença, é contraditório que não se veja em Rui Costa um sentimento de urgência para dar a Bruno Lage, mal abram os trabalhos no Seixal, o novo plantel já fechado...
A verdadeira campanha eleitoral para as eleições do Benfica, marcadas para 25 de outubro próximo, iniciar-se-á apenas em setembro. Até lá, surgirão candidatos, cada um procurará encontrar o seu espaço (grande potencial de eficácia nas ações de proximidade de Noronha Lopes), mas nenhum ousará, sob pena de cometer ‘hara-kiri’, comprometer a preparação da nova época, responsabilidade exclusiva de Rui Costa, sob pena de ser apodado de divisionista e inimigo da causa comum, cujo lema é ‘E Pluribus Unum’.
E porquê setembro, e não imediatamente? Porque o mês de agosto será dedicado à competição, e quem der sinais de não estar a remar a favor dos interesses do Benfica, será inapelavelmente ostracizado. De 31 de julho, data da Supertaça Cândido de Oliveira, até 27 de agosto, quando se saberá se o Benfica entra ou não na fase de grupos da Champions, diz a história dos encarnados que a ordem será unida, e quem a subverter conhecerá penalização. E como não será estranho que o clube da Luz chegue à quarta jornada da I Liga (31 de agosto), só com vitórias (Rio Ave e Tondela em casa; e Estrela da Amadora e Alverca, fora), será sobretudo a questão da Champions a ser detonador ou retardador das escaramuças eleitorais.
Portanto, na fase inicial do processo pré-eleitoral, Rui Costa, pode dizer-se, terá a faca e o queijo na mão, ou seja, dependerá das escolhas que fizer (e pelos vistos serão substanciais no que respeita ao plantel) para ter a favor ou contra a sua recandidatura os humores e amores do eleitorado benfiquista. Aliás, ao dia de hoje, é o presidente benfiquista que tem na mão o ás de trunfo (refazer o plantel e esperar bons resultados), estando por saber se o jogará bem ou mal. Só depois de conhecido o desfecho desportivo do mês de agosto será possível a todos os candidatos alinharem os discursos: se a época estiver a correr mal desportivamente, apontarão a esse capítulo; caso contrário visarão a situação económica e, genericamente a falta de liderança e o ‘vieirismo’. Ou seja, para já Rui Costa é dono e senhor da ‘ação’, e os restantes candidatos preparar-se-ão para a ‘reação’.
Por tudo isto, devia haver, nas hostes do atual presidente, um sentimento de urgência, que até agora não transpareceu, para colocar à disposição de Bruno Lage, mal abram os trabalhos no Seixal, o plantel com que será atacada a fase inicial – como se viu crucial – da temporada. Com a Supertaça no primeiro dia de agosto, e a primeira-mão da terceira pré-eliminatória de acesso à Champions marcada para cinco ou seis do mesmo mês, Rui Costa não pode esperar pelos últimos dias do mercado (quando, muitas vezes, se fazem os melhores negócios) para definir quem vai para a selva com Bruno Lage. Este sentimento de urgência, que tem raízes desportivas, mas, não há como escondê-lo, também eleitorais, não tem parecido presente numa administração que precisa de requalificar o meio-campo, o centro do ataque e as alas. Se este trabalho não estiver concluído pelo menos até ao fim desta semana, Rui Costa arrisca-se a desbaratar o maior capital que possui, o da ‘ação’, dando argumentos a quem sabe que terá tantas mais hipóteses de vir a ser presidente do Benfica, quanto o atual recandidato falhar no campo desportivo."
José Manuel Delgado, in A Bola

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