"Vemo-nos em meados de outubro numa situação tão pouco comum, sentindo certo aroma a uma tranquilidade que desconhecemos. Esta segunda-feira, Portugal joga na Bósnia, na Zenica de tantas histórias, livre de dramas ou matemáticas, já dentro do Euro 2024 e apenas com o simples objetivo de amealhar um pontinho para garantir o primeiro lugar do grupo quando ainda faltam três jogos para o fim da qualificação. Não haverá playoffs, previsões de catástrofes que invariavelmente não vieram a acontecer: afinal de contas, com mais ou menos calculadora, desde 1998 que não sabemos o que é falhar uma fase final de uma grande competição.
Perante os adversários que foram saindo caprichosamente do sorteio para esta qualificação, notícia seria se a seleção nacional tivesse dificuldades. A Eslováquia, que vencemos na sexta-feira, sofrendo os primeiros golos nesta fase ao fim de sete jogos, era o rival mais cabeludo (porém, de cabelo liso, não propriamente uma permanente) e, com exibições mais exuberantes que outras, as vitórias sucederam-se naturalmente.
A boa notícia para Portugal será que o último par de jogos já trouxe, com resultados, aquilo que Roberto Martínez prometeu à chegada: flexibilidade, soluções, uma equipa preparada para jogar em vários sistemas e estratégias. No Dragão, o espanhol de fleuma britânica colocou pela primeira vez Gonçalo Ramos e Cristiano Ronaldo juntos, numa engenhosa e airosa saída para a discussão se a titularidade deveria pertencer a um ou a outro. Pelo que se viu, principalmente na 1.ª parte, os dois até se podem complementar. Bruno Fernandes agrega as diferentes sensibilidades táticas encontrando e criando os espaços com a sua visão prodigiosa - é o jogador-chave desta qualificação - e o problema será sempre onde colocar tanto talento a jogar. Que João Félix, Diogo Jota ou Vitinha não sejam titulares absolutos nesta equipa diz bem da profundidade desta geração. Mas também da responsabilidade que ela e Martínez têm.
Aferidas as diferentes fórmulas, a esta equipa portuguesa faltará agora um teste duro. Houve tempo e competência para preparar esse embate com a realidade. Felizmente, o discurso não é pequenino, não nos menospreza. Bernardo Silva disse, e bem, que é para chegar “o mais longe possível no Euro”. E com esta equipa “o mais longe possível é ganhar”. Martínez falou em “sonhos” e, mais importante, em concretizar esses sonhos. Portugal, com a matéria prima que tem à disposição e com o trabalho dos últimos meses, não se pode esconder, seja contra o Liechtenstein ou contra França, Alemanha ou Espanha. Há que ousar olhar para o céu e jogar de acordo. Para já, não há vislumbre de nuvens."
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