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sábado, 19 de agosto de 2023

Direitos televisivos – ‘quo vadis’?


"Tem o presidente da Liga insistido, de boa-fé, evidentemente, na bondade da centralização dos direitos televisivos como forma de desenvolver a competição do futebol profissional em Portugal, com maior equilíbrio financeiro entre clubes e alegada maior competitividade desportiva.
A insistente luta de Pedro Proença resultou na obrigatoriedade da centralização daqueles direitos por decreto governamental, que impõe, assim, a partir de 2028, que os direitos televisivos do futebol profissional não mais sejam negociados individualmente pelos clubes associados da Liga.
A pergunta que todos colocaram de imediato é muito simples: mas os direitos, nessa altura, vão valer mais do que valem hoje? Para receberem mais dinheiro os clubes mais pequenos, vai ainda assim ser possível que os principais clubes recebam mais do que recebem agora?
Os direitos televisivos do futebol profissional português valem hoje, grosso modo, cerca de 160 milhões de euros por ano. Naturalmente, Benfica, FC Porto, Sporting recebem mais do que todos os outros.
O Benfica foi sempre o clube que mais dinheiro conseguiu dos direitos televisivos, e quando negociou, por fim, com uma das grandes operadoras de comunicações nacionais, abriu uma ‘caixa de pandora’, em 2015, que permitiu, igualmente, a FC Porto e Sporting chegarem a números que, de outro modo, talvez jamais fossem possíveis.
De repente, os três grandes conseguiram contratos (cada um com as suas características) da ordem dos muitos milhões de euros. Em matéria exclusiva de direitos televisivos, chegou o Benfica, como sempre, na liderança, a uns impressionantes 40 milhões por época (para a nossa realidade), sensivelmente 400 milhões por dez anos, o que se justifica (e continuará sempre a justificar) com a dimensão única do mercado que consome a marca benfiquista. FC Porto e Sporting receberam mais dinheiro, na época, mas venderam muitos mais coisas do que os encarnados (além dos direitos televisivos, também a publicidade nas camisolas, publicidade estática no estádio, etc, etc, etc.)!
Na sequência da luta (positiva) de Pedro Proença foi criada a expectativa de os direitos televisivos da Primeira Liga, negociados em conjunto, poderem passar dos 160 milhões, em 2028, ou mesmo antes dessa data, para qualquer coisa como 300 milhões, ou perto disso. O próprio Pedro Proença sempre admitiu esse objetivo, e até mesmo muita segurança em atingi-lo.
Volta a perguntar-se: mas como? Quem paga o dobro por direitos televisivos de um campeonato periférico e menos apelativo? Quem opera o milagre?
Querendo, legitimamente, os clubes de menor dimensão receber mais dinheiro, não querem os grandes clubes passar a receber menos do que recebem hoje. É óbvio e faz todo o sentido.
Como pode o Benfica (e destaco o Benfica por ser o que detém quota de maior mercado em tudo o que diz respeito ao chamado consumo do futebol) aceitar passar a receber menos do que recebe hoje se é o Benfica que faz mover a fatia mais significativa dos interesses económicos associados a indústria do futebol em Portugal? - (desculpem a expressão horrorosa ‘indústria do futebol’, mas não fui eu que a inventei!)
Agora que nos chegam as notícias de operadores televisivos de Inglaterra, França, Brasil, por exemplo, terem desistido dos direitos da Liga portuguesa (os jogos deixam, para já, de ser vistos esta época naqueles países), as interrogações aumentam de tom, como não podia deixar de ser, e isso só vem dar razão aos que, como eu, sempre desconfiaram da possibilidade de os direitos televisivos de uma competição como a nossa poderem valer mais do que valem agora.
E já valem o que valem hoje por causa das tais loucas negociações iniciadas, em 2015, pelo Benfica com a NOS, que se estenderam à outra grande operadora de comunicações do País (a MEO Altice) e chegaram principescamente a FC Porto (MEO) e Sporting (NOS), e atingiram ainda de modo muito significativo alguns outros clubes como SC Braga ou Vitória SC (que melhoraram muito as receitas televisivas graças a contratos também com a MEO Altice).
É, pois, legítimo perguntar-se: direitos televisivos, afinal, ‘quo vadis’? (para onde vão?)
Termino com esta pequena-grande preciosidade: o jogo internacional (pré-eliminatória da Liga Conferência) do Arouca em Bergen, Noruega, não teve direito a transmissão televisiva para Portugal porque nenhum operador televisivo (nem os premium, que são pagos) esteve interessado.
O próprio canal patrocinado pela Federação Portuguesa de Futebol, por exemplo, transmitia, à mesma hora, um jogo da mesma competição, mas entre equipas estrangeiras (o Maccabi Telavive-AEK Larnaca). Por mais razoável que seja a justificação, os adeptos ficam perplexos!
Ora se nem as televisões portuguesas querem o que é nosso, como podemos esperar que o queiram as televisões internacionais?!
Reconheço o mérito e as boas intenções de Pedro Proença e da equipa que lidera na Liga. Mas de boas intenções, meu caro Pedro Proença, está realmente o inferno cheio!"

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