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segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Vou "Catar-vos" uma, duas, estórias


"Catar 2022, esse "pronome verbal", menos mal que "Chéquia", lembra-me um particular mal-entendido entre um Embaixador e um funcionário de Embaixada, linguista e muito cioso do que é correcto. Foi esse mesmo funcionário que me informou que já poderia escrever dossiê sem aspas em vez de "dossier", o que registei de imediato. Também registei este "feito-diverso" que me relatou de um seu dia de trabalho em que tinha que dar seguimento a um ofício ou outro documento oficial, com destino ao Qatar, tendo o funcionário-linguista escrito Catar a rematar o destinatário. O Embaixador não ignorou tal facto no exame final ao despacho, chamou o funcionário e diminui-o com um "como é possível confundir um nome com um verbo?" O funcionário insistiu que agora era assim (há 10 anos), que agora haviam regras novas. O Embaixador não quis acreditar, tendo dito que mesmo que seja verdade, não colará em Portugal, porque é um verbo que implica piolhos! Assim se vê a força do futebol, de Chéquia a Catar!
O Irão, que sempre dissemos/ouvimos Irão, do verbo ir, nunca nos fez confusão e até nos sugere o exótico de todos os "kafiristões" que para lá estão! Irão em Portugal, Irã no Brasil. Chamar Irão ao Irã também é motivo de gozo no Brasil, já dizer Irã na Guiné-Bissau é fazer referência a uma religião e não a um país. Das idiossincrasias que desmentem o "todos diferentes, todos iguais"!
Quanto ao Catar 2022, fico contente por perceber que os estrangeiros, que são aqueles que falam estrangeiro, andam a menos de um mês do pontapé de saída a lamentarem-se pelo erro crasso que foi aceitarem organizar este Mundial no Catar. Até parecem portugueses estes estrangeiros! Alavancado nos petrodólares compraram tudo e os comprados não sabiam que quem paga manda? Parecem mesmo portugueses! Em termos de grande política, este Mundial vai-se ficar pelas pequenas polémicas da minissaia a caminho do estádio, do bêbado que começa a acompanhar aos gritos o chamamento para a oração, do mesmo bêbado apanhado a urinar na esquina, do fotógrafo que apontou a câmara para a esposa errada, quando só queria enquadrar o spoiler do aileron da biatura no strander do centro comercial e outros feitos diversos do género cultural. O que tenho visto nas reportagens televisivas tem sido demasia de avisos sobre "o respeito da nossa cultura", quase de dedo em riste para a camera. Ora para o Catar país, para o Médio Oriente e para o Islão em toda a sua extensão planetária, a grande política que poderá sair deste evento, em tudo depende da gestão destes comportamentos "a contracultura", inconsequentes e fruto do culto do individual. Contracultura sem aspas implicaria uma consciência política e politizada. Uma consciência e a malta que lá vai para ver a bola, fá-lo para se embebedar, se exibir e por vezes confrontar. É da gestão deste confronto que se fará a prova dos nove. Esta gestão também inclui o tratamento dado aos detidos. O que se passar à porta fechada, dará sinais sobre o que as autoridades, A Cultura, para ser literal, estará preparada para alavancar a partir de 19 de dezembro e marcar a agenda de um potencial Novo Médio Oriente no esboço da Nova Ordem Mundial.
Quanto à nossa selecção, acho que nem Irão Catar sonhos a Doha, começando pelo patético de equipas que nos calhou no grupo, que nos faz de favoritos, terminando no existencialismo de Cristiano Ronaldo, que de momento só me trás à memória uma cabeçada de Zidane a Materazzi na final do Mundial 2006. Os psicólogos analisaram aquilo na altura como uma forma simbólica do cabeceador, em fim de carreira, destruir tudo o que tinha construído até aí. Um fim de ciclo, obrigaria a um último acto dramático num grande palco. Daquilo que nos conheço, acrescento que ser português é não ser capaz de lidar com a pressão de se ser favorito, ou o(s) melhor(es) do mundo!"

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