"A história lembra-nos que o desporto e a política não fazem um “bon ménage”. Ao longo dos tempos, o desporto foi, muitas vezes, instrumentalizado pela política (Boucher, 2010). Em 1936, vemos como um regime totalitário exerceu pressão ou mesmo chantagem sobre o Comité Olímpico Internacional (COI) (Wahl, 2004). Apesar dos protestos desta organização, os judeus foram excluídos das competições, dado que na Alemanha eles não podiam pertencer aos clubes desportivos. Foi também pela mão do Reich que os jornalistas correspondentes foram recrutados para a imprensa internacional. A festa olímpica assumiu as cores nazis, com a presença massiva de bandeiras com a cruz suástica e o desfile de milhares de membros das juventudes nazis.
O desporto é ambíguo por este fervor quase religioso, em que a multidão é chamada a participar. Como se torna cada vez mais visível com o desenvolvimento dos meios de comunicação (rádio, televisão, etc.), muitos são tentados a se servirem dele. Hitler foi o primeiro a pensar na exploração cinematográfica dos Jogos Olímpicos (JO), encomendando a Leni Riefenstahl (1902-2003) o filme “Os Deuses do Estádio”, no qual se faz o hino à beleza física que habitava na ideologia nazi.
Mas a recuperação do desporto não é feita somente pelos regimes totalitários. Os que podem exploram (ou são tentados a fazê-lo) a sua visibilidade. Recordamos os atletas negros que levantaram o punho no pódio no México, em 1968. Os terroristas também se serviram dele em Munique, em 1972, ou em Atlanta, em 1996. Por seu turno, os países de Leste utilizaram a visibilidade desportiva para promover o seu regime, dopando massivamente os seus atletas.
O “show desportivo” seduz multidões inteiras."
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