"O jogo de futebol é composto por vários momentos. Uma equipa pode, no mesmo jogo revelar grande qualidade a ultrapassar pressão alta adversária e, ao mesmo, tempo somar decisões questionáveis quando chega ao meio-campo ofensivo em vantagem, como pode ter muitas soluções perto da baliza contrária mas ser incapaz de chegar às zonas de definição em condições. Na quinta-feira, o Arsenal na primeira parte pertenceu quase ao primeiro grupo. O brilhantismo demonstrado a espaços na primeira fase de construção, é inversamente proporcional à incapacidade de aproveitar o espaço daí resultante.
A construção e a táctica do quadrado
Na conferência de imprensa, Jorge Jesus deixou a ideia que utilizaria 3 centrais. Ficava por esclarecer uma das grandes incógnitas tácticas: sabendo que os laterais do Arsenal começam baixos na construção e os extremos abertos à profundidade, quem iria saltar à pressão quando a bola entrasse nos laterais e como reajustariam os colegas.
A resposta de JJ foi relativamente original. Ao contrário do que foi ideia geral não se limitou a encaixar peças na distribuição gunner. É verdade que Luca e Darwin fizeram uma primeira linha de pressão e Taarabt e Pizzi encaixaram em Ceballos e Xhaka, médios adversários mais recuados, formando por isso um quadrado. Mas a grande surpresa foi quem saiu na pressão aos laterais livres, nomeadamente Cedric à esquerda. Maioritariamente Pizzi abandonava o corredor central para pressionar o internacional português. Diogo Gonçalves ficava fixado na linha defensiva por Smith Rowe, extremo inglês.
Em zonas mais recuadas através de Leno ou do central (Darwin pressionava frontalmente), o Arsenal foi capaz de encontrar Cedric, Pizzi saia à pressão mas havia espaço nas suas costas para jogar, potenciado pela paciência e conforto inglês a circular atrás. Com efeito, Ceballos e Xhaka podiam juntar-se à linha dos centrais, baixando e atraindo os médios encarnados, portanto Pizzi ia pressionar fora e Taarabt estava adiantado para proteger meio.
O Arsenal encontrou várias maneiras de ultrapassar a pressão encarnada foi a colocação de Xhaka aberto à esquerda na linha dos centrais. Aí era Pizzi quem saltava à pressão mas Cedric ficava sozinho e com espaço para conduzir com bola, uma vez que, Smith Rowe continuava aberto e profundo a fixar Diogo Gonçalves. Os gunners chegavam assim tranquilamente e em boas condições ao meio-campo ofensivo.
Ao longo do jogo, e em vários momentos o Arsenal foi capaz de atrair a equipa do Benfica a zonas específicas para aproveitar outras deixadas livres. Ainda que Grimaldo saltasse mais na pressão ao lateral houve momentos de indefinição. No lance abaixo, os ingleses tentam explorar o seu corredor esquerdo, não conseguem mas mobilizam a pressão encarnada, com Smith Rowe a ir no espaço interior, já que, Diogo Gonçalves está mais adiantado a condicionar Cedric. Bola regressa a Leno que atrai Darwin e Ceballos baixa para a grande área trazendo Taarabt. O espanhol joga no homem livre que é, novamente, o lateral mas desta vez do lado esquerdo. Grimaldo chega tarde para pressionar e Bellarin tabela com Saka. Com Taarabt longe, há espaço interior onde Bellarin conduz bola.
Nesta fase, primeiros 25 minutos, em que o Arsenal conseguiu sistematicamente bater a pressão do Benfica as consequências não foram piores para os encarnados porque como já foi referido atrás com espaço e excelentes condições a decisão de quem tinha bola foi muito questionável. Foi clara a intenção de Arteta em colocar alguém na ruptura de fora para dentro entre central e ala quando a bola estava à largura. No entanto, esse passe surgiu na 1ª parte, regra geral, ou demasiado cedo quando o central encarnado estava próximo na cobertura e tinha tempo para controlar movimento e não deixar enquadrar ou quando soluções ao meio por dentro do bloco, ou até mesmo por trás eram mais viáveis. Faltou critério e paciência e essencialmente equacionar outro corredor que não o da bola. Odegaard foi o mais prejudicado pois foi quem estava livre para receber em circunstânicas favoráveis.
Portanto, o Arsenal foi incapaz de travar a circulação no último terço e instalar-se no meio-campo do Benfica, o que levou naturalmente a que a bola regressasse mais rapidamente à sua primeira fase de construção.
Após este assalto inicial o Arsenal deixou de ser tão forte na construção por dois motivos: o Benfica subiu os alas, nomeadamente Grimaldo, encaixando agora sim na estrutura adversária e os ingleses também deixaram de ser tão pacientes a circular bola atrás. Por vezes, Cedric continuava livre mas durante menos tempo e o discernimento não foi o maior.
A solução inglesa passou por procurar Aubameyang ou Smith Rowe na profundidade. No caso do gabonês era Otamendi quem disputava em situação de 1×1 sem coberturas propriamente perto, nas duas ocasiões o duelo foi ganho pelo argentino. Ao adiantamento dos alas, havia a parelha Xhaka-Ceballos com Pizzi-Taarabt, Lucas acompanhava Smith e Vertonghen e Saka no espaço inteiror. Sobrava o 1×1 na profundidade.
As correções na 2ª parte
O Arsenal na 2ª parte apareceu mais consistente no meio-campo ofensivo, fizeram por ter a bola nessa zona mais tempo, e o Benfica foi obrigado a baixar. As rupturas nas costas dos alas continuaram mas quem tinha bola à largura agora nem sempre fazia o passe (boa decisão a discernir se era o momento certo) e se o portador ficava com bola equacionava a mudança de corredor por dentro do bloco adversário, ou seja, para o espaço entre linhas, caso não fosse possível a circulação travava e voltava atrás. Os gunners tiveram posses mais longas, Xhaka e Ceballos, numa fase inicial, ajudaram centrais na construção sempre a tentar ganhar as costas dos dois jogadores da frente do Benfica. Acto contínuo os alas também apareceram entre linhas para receber no quadrado feito entre central-lateral-ala-médio. Enquanto o Benfica não não adoptou posicionamentos mais conservadores, o Arsenal conseguiu chegar com perigo ao último terço, aproveitando as rupturas que empurravam a linha de 5 para trás permitindo a quem estava de frente espaço para definir como no lance abaixo.
Durante a fase inicial da 2ª parte e quando Pizzi voltava a sair a Xhaka, por vezes, Diogo Gonçalves saltou a Cedric, criando muito espaço para a sua linha defensiva que ficava baixa (mérito também para Aubameyang) abrindo condições à entrada da bola em Smith Rowe a largura. Mas desta vez, não forçou e ligou com o avançado gabonês por dentro só com a linha defensiva pela frente
E aqui entra o factor Odegaard. O jovem norueguês, pese embora a idade, é no futebol europeu um dos melhores a fazer os passes em ruptura para as costas da defesa. O Arsenal nem sempre se mostrou preparado para lidar com o facto de o Benfica não baixar em alguns momentos e jogar com o fora-de-jogo mas Odegaard na 2ª parte, além do golo, tem mais duas situações onde tem espaço e boas condições para definir. Ajustar comportamentos e limitar a sua acção parece chave na definição da eliminatória.
O Arsenal tentou aproveitar sempre a pressão do Benfica em seu beneficio. Mesmo frente a um 451 em bloco médio, os gunners começaram por colocar Xhaka e Ceballos de frente para o bloco e a atrair marcações. Fizeram os médios encarnados saltarem aos seus passes para atrair e colocar a bola entre linhas nos espaços interiores onde apareciam os alas. Esta ideia tem uma grande vantagem: obriga a linha do Benfica a recuar e subir constantemente (porque a bola pode avançar e recuar com a utilização da dinâmica do 3º homem) e colocar Odegaard de frente e sem pressão, situação favorável a passe de ruptura. Foi assim que quase deixaram Auba isolado perante Vlachodimos.
No golo, exploraram as costas mas porque Grimaldo ficou a meio caminho entre guardar posição na linha de 5 ou ir pressionar Bellarin,, criando dúvida em Vertoghen.
Take it easy, Arsenal
No melhor período gunner, Jorge Jesus fez por fechar a porta. As substituições ajudaram e acabou por assumir cada vez mais o 541 e arriscar menos na pressão atrás nos últimos 25 minutos. O que mudou foi mesmo a linha de 5 mais conservadora, laterais a não saltarem e médios menos pressionantes perante quem estava à sua frente e mais preocupados em proteger as costas. Onde antes a prioridade era pressionar, agora interessava controlar. A juntar ao desgaste inglês a verdade é que o ritmo baixou e tirando um ou outro cruzamento, o Benfica foi controlando até ao apito final.
Conclusão
Globalmente o Arsenal parece superior, no entanto, os seus períodos de domínio foram interrompidos quando o Benfica conseguiu ter a bola e a verdade é que o Arsenal mostrou indefinição e abriu espaços quando teve de defender no seu meio-campo.
A pressão do Benfica deverá ser obrigatoriamente diferente na 2ª mão mas os ingleses também não devem deixar escapar tantos lances com tanta vantagem como os da primeira parte e poderão estar mais preparados para o comportamento da linha defensiva encarnada quando permanece subida, já melhoraram este aspecto nos últimos 45 minutos."
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