"As 5 substituições apareceram como uma excepção: em tempo de pandemia, com calendários acelerados, era preciso proteger a integridade dos atletas. Foi a hipótese alternativa à de eliminar ou suprimir por um ano ou dois algumas competições menores. Como tantas vezes acontece no futebol, e no afã com que se procuram alterações - ao jogo com mais sucesso na história, vale a pena lembrar -, a excepção fez-se regra, muito na linha do pensamento destes tempos em que a dimensão física do jogo é sobrevalorizada, reforçada por fotos de músculos em redes sociais, dados GPS discutíveis e mapas de temperatura quase sempre inúteis. Se o que conta – e se contabiliza mais facilmente - é quanto se corre, pois que se acrescente mais gente pronta para correr.
O problema são os efeitos no jogo, que, como a sua qualidade propriamente dita, nunca serão facilmente mensuráveis. Os treinadores sentem hoje a pressão para usarem todos os recursos disponíveis, porque os dirigentes querem ver utilizados, leia-se rentabilizados, mais “activos” sob contrato. Porque os adeptos também não se conformam com a ausência de alterações, sobretudo se o jogo está a correr menos bem (mesmo se as trocas são tantas vezes para pior) mas também para queimar tempo quando a coisa corre de feição. E os próprios atletas aumentam naturalmente a expectativa de utilização, e inversamente a de frustração por não saírem do banco, agora que dá para mudar quase meia equipa. Já nem falo de agentes ou representantes, os de menor tolerância a representados com permanência prolongada entre os suplentes, com desvalorização de mercado associada. Consequência: há substituições realizadas mesmo quando nada no jogo as recomenda. A melhor prova será esta: quantas vezes um treinador tem deixado de fazer todas as trocas possíveis? Tentem lembrar-se, porque são mesmo poucos casos. E foi porque taticamente a equipa necessitava de todas essas mudanças? Não, apenas para não serem acusados de não ter esgotado os recursos todos.
As minhas reservas quanto a esta mudança, de ganho apenas aparente, são, no entanto, mais profundas, porque ou se acredita num modelo de jogo e, sobre essa ideia maior, na preparação semanal de um plano para cada partida ou se faz fé nas vantagens de revolucionar todas as partidas em curso. Mudar 5 jogadores é mudar meia equipa e é quase impossível não alterar a dinâmica dos setores todos. Se há um modelo convictamente treinado e rotinado, como é que se mantém a ordem tática com tanta mudança sucessiva? Tantas vezes se vê um novo desenho durante uns dez minutos e logo após uma nova alteração de estrutura para os dez seguintes. O que resta da ideia inicial ou do plano de jogo treinado? Muito pouco. Acresce que a multiplicação das trocas, mesmo com limite dos momentos em que podem ocorrer, aumenta o número de pausas no jogo, com quebras de ritmo sucessivas, mais graves num futebol como o português em que a percentagem de tempo útil chega a ser ridícula, tantas vezes. Trata-se de jogar com as novas regras, mas não deviam ter deixado de ser excepção.
PS 1: Também o VAR surgiu para atuar como excepção, corrigindo ou situações de ilegalidade contrastada (exemplo dos foras de jogo) ou erros efetivamente grosseiros. Cada vez mais convencidos de que o jogo é tanto deles como de jogadores ou treinadores, os árbitros não resistem a meter-se em tudo o que é lance, sobretudo quando sentados em frente a monitores. O problema do lance (discutível, sob qualquer prisma) de Coates em Famalicão foi o VAR ter-se metido. Sem isso, seria bem menor a controvérsia, até porque Luís Godinho validou o golo.
PS 2: Que me perdoem as divindades dos últimos 15 anos que se reencontraram esta semana em Camp Nou, mas o melhor jogador do mundo, o mais encantador e decisivo, chama-se hoje Neymar. Se fosse eu a decidir, a Bola de Ouro era dele."
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