"Eu sei que Cristiano Ronaldo continua a jogar como se jogasse sempre para a manchete do jornal do dia seguinte ou para desafiar a história nos seus recordes, mas antes de acabar a primeira parte do Portugal - Lituânia já tinha a ideia a não me largar: que, naquele jogo havia jogador que tudo o que fazia, fazia em toque de génio - e não era o Ronaldo, era Bernardo Silva, o Bernardo que tem cada vez mais Messi dentro do seu jogo. É: para mim, Ronaldo é o Maior Goleador da História do Futebol Mundial - mas começo a pensar que o Melhor Jogador Português já era Bernardo.
É o Bernardo porque o Bernardo é capaz de jogar cada vez melhor o seu jogo com a argúcia de quem percebe, antes de qualquer outro, as carências que a equipa arrasta e não perde tempo a transformar imperfeições em perfeições.
É o Bernardo porque o Bernardo é capaz de jogar cada vez melhor o seu jogo virando destino que parecia casmurro com um toque de bola a sair-lhe dos pés como se fosse um sorriso numa cara a desmarrar-se - criando aquilo que outros achariam que ninguém criaria e que até pode ser golo sublime ou não.
É o Bernardo porque o Bernardo é capaz de jogar cada vez melhor o seu jogo fazendo, com a sua esperteza ou o seu dom de adivinhação, com que os seus colegas sejam melhores do que são.
É o Bernardo porque o Bernardo é capaz de jogar cada vez melhor o seu jogo a mostrar argúcias no modo como liga o jogo da equipa, a afasta de complicações e atalhos, cadilhos e alçapões.
É o Bernardo porque o Bernardo é capaz de jogar cada vez melhor o seu jogo como se nunca andasse, aflito, na relva, às voltas na escuridão de um lodaçal - e a beleza do que vai fazendo fosse como um vento que se sente e não se sabe de onde vem, nem para onde vai."
António Simões, in A Bola
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