"Cumprida a obrigação de regressarmos à fase final de um Europeu de futebol, coloca-se a grande questão : qual o papel de uma selecção que tem a incumbência de defender o título conquistado em França?
Não adianta muito entrar na discussão sobre o ser "favorito" ou "candidato". Pela simples razão de que Portugal é sempre candidato, pela sua enorme qualidade individual e colectiva. E não favorito, devido ao peso histórico das grandes potências europeias.
De resto, para começo de conversa, convém recordar que vencer duas vezes consecutivas o Campeonato da Europa é muito mais difícil do que parece. Tal só sucedeu uma vez (Espanha, em 2008 e 2012), ou seja, falamos da excepção que confirma uma regra de quase 60 anos. Mais : o Europeu sempre foi uma competição com espaço para vencedores-surpresa como foram os casos da (então) Checoslováquia, Dinamarca, Grécia ou Portugal, apesar do nosso país já andar a prometer "qualquer coisa" desde 2000.
A questão é que um campeão em título já não pode pensar apenas em fazer o melhor possível. Tem uma responsabilidade acrescida e, por isso, deve apontar claramente a chegar longe. E, por isso, tentar uma nova presença na final é algo a que deve ambicionar. Se o consegue ou não é outra história, mas será importante deixar claro - no terreno - que tudo fará para o atingir.
Nesta fase de qualificação, a selecção de Fernando Santos conseguiu o principal objectivo, o apuramento directo, mas falhou um outro alvo assumido, concluir no primeiro lugar. Passou, como se exigia, mas - excluindo as goleadas à Lituânia que não servem como bitola de avaliação - teve apenas uma actuação à campeão, na Sérvia, num dos jogos de verdadeira exigência deste grupo. É que aqueles quatro pontos a menos, em casa, logo no arranque, acabaram por atirar-nos para um provável Pote 3 no sorteio, o que, não sendo determinante para a fase final, pode gerar problemas acrescidos quando a prova arrancar.
O que gostava mesmo era de ver Portugal no Euro a ganhar jogos, claro, e a exibir-se no tal plano de campeão, que lhe permitisse fazer com que os adversários nos olhassem como um enorme problema e não apenas como um problema. Parece o mesmo, mas não é.
Claro que eles sabem que temos Cristiano Ronaldo. Só por si, isto já conta bastante, porque, em condições normais, o capitão português é capaz de desatar nós apertados. Mas, também por este motivo, espero que a gestão física de Ronaldo seja inteligente daqui até lá, pois todos ganhariam, Portugal, a Juventus e o jogador. Não sei é se Sarri estará para aí virado ou se o próprio.
Cristiano estará disposto a abdicar dos jogos em que seria avisado fazê-lo.
Só que há ainda mais recursos no conjunto português. Temos hoje um grupo que integra elementos que alinham em várias equipas da elite europeia - em número nunca visto - , emergindo Bernardo Silva como o exemplo mais flagrante. Aliás, a lista de potenciais convocáveis de nível superior é longa e o problema de Fernando Santos vai ser definir quem fica fora, não quem fica dentro.
Permitam-me, de caminho, focar um aspecto que vai contar bastante no Euro2020, porque as questões logísticas assumem um papel ainda maior do que é habitual. Com um Europeu distribuído por 12 países, temos uma dor de cabeça acrescida. Reparem que não fazemos ideia de onde jogaremos, antes do sorteio de dia 30.
Sem entrar agora em comentários laterais à invenção do sr. Platini, dos tempos em que mandava na UEFA, esta arrumação insólita deixa-nos numa posição de expectativa total. Jogar em Bilbao/Dublin é uma coisa, em Londres/Glasgow é outra, ou em Roma/Baku outra ainda.
Seja como for, em primeira e última instância, tudo passa por seleccionador e jogadores. E deles espera-se o melhor. Sejam campeões ou não que fique bem vincado que vamos lá para discutir a coisa. Mesmo."
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