"O bis ao Feyenoord; a estreia com o Chipre; os golos em Alvalade; as leis da física; o golo à URSS e os golos à França. Passou a ser eterno.
Estávamos a 22 de Março de 1972 quando deu o primeiro sinal de futuro brilhante: dois golos ao Feyenoord. Aos 31 e aos 87, como enguia, fugiu por entre holandeses e marcou dois golaços. Depois, festejou correndo, desenfreado, pelo relvado de braços erguidos ao céu e executando espécie de skipping alto. Nas bancadas da Luz, mais de 70 mil pessoas confirmavam aquilo que sabiam do último ano e meio: Rui era um jogadorzão.
Sete dias depois, a 29 de Março de 1972, estreou-o de quinas ao peito. O adversário era o fraquinho Chipre, mas a equipa portuguesa era quase uma constelação. Havia (ainda) Eusébio e (já) haviam Nené, Artur Jorge, Humberto Coelho, Jaime Graça, Peres, Dinis e Toni. Além, claro, de Manuel. Que fechou a goleada por 4-0. Ainda com 19 anos e já ele marcava pela Selecção. Depois, como sempre, festejou correndo, desenfreado, pelo relvado de braços erguidos ao céu e executando uma espécie de skipping alto.
Dois anos e dois dias depois, a 31 de Março de 1974, o Benfica foi a Alvalade bater o velho rival por histórico 5-3. Aí, deu nas vistas em dois lances fantásticos: pegando na bola a meio-campo e, numa mistura de dança, velocidade e talento, passou por todos os leões que lhe apareceram na frente. Talvez Vagner, talvez Nélson, talvez Alhinho. Depois, como humilde que era, Trindade ofereceu o golo a Nené, que quase se limitou a encostar para o 2-1 na baliza de Damas. Quase a abrir a segunda parte, lançaram-lhe a bola e ele correu. Correu, correu, correu e, à saída de Damas, deu subtil toque na bola e fez o 4-2. Depois, como sempre, festejou correndo, desenfreado, pelo relvado de braços erguidos ao céu e executando uma espécie de skipping alto.
Quase nove anos depois, a 30 de Janeiro de 1983, desafiou todas as leis da física. O Sporting - FC Porto terminou empatado (3-3) e o momento mais alto de todos os momentos altos, aconteceu ao minuto 36. A bola veio cruzada da esquerda, a meia altura, para a área portista. Talvez por Mário Jorge. Ou Oliveira, Ou Xavier. Era impossível marcar golo dali. Até porque Jordão estava a correr na direcção na bola e a baliza estava cada vez mais a ficar para trás. Como é possível estar a correr na direcção oposta da baliza e em busca do contacto com a bola e, mesmo assim, fazer golo? Impossível, claro está. Para muitos, menos para RMTJ. Correu da marca da pequena área, onde sabia que a bola iria cair, e depois, de repente, instintivo, marcou de calcanhar na baliza de Amaral. Fugiu de João Pinto. E de Simões. E de Eurico. E de Inácio. Depois, como sempre, festejou correndo, desenfreado, pelo relvado de braços erguidos ao céu e executando uma espécie de skipping alto.
Nove meses depois, a 14 de Novembro de 1983, num Portugal - União Soviética, ficou sozinho frente a Dassaev. Onze metros a separá-los e 100 mil a rezar na Luz. Pegou na bola, bateu-a três vezes na relva empapada e colocou-a na direita da baliza. Depois, como sempre festejou correndo, desenfreado, pelo relvado de braços erguidos ao céu e executando espécie de skipping alto. Fez o mesmo sete meses e nove dias depois, a 23 de Junho de 1984, num França - Portugal. No Stade s de Marselha perante Bats. E Domergue. E Battiston. E Bossis. Braços ao céu mais altos que nunca, espécie de skipping mais alto que nunca. A partir daí, deixou de haver dúvidas. Passou a ser conhecido pelo nome completo: Rui Manuel Trindade Jordão. Como Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro. Ou Eusébio da Silva Ferreira. Ou Luís Filipe Madeira Caeiro Figo. Ou Fernando ALbino de Sousa Chalana. Ou Paulo Jorge dos Santos Futre. Ou Mário Esteves Coluna.Ou Rui Manuel César Costa. Ou Manuel Galrrinho Bento. Ou António Simões Costa. Ou Hernâni Ferreira da Silva. Ou Vítor Manuel Afonso Damas de Oliveira. Ou João Manuel Vieira Pinto. Ou António Luís Alves Ribeiro Oliveira. Ou Feranndo Baptista de Seixas de Vasconcelos Peyroteo. Ou Tamagnini Manuel Gomes Baptista. Ou Fernando Mendes Soares Gomes. Ou Hilário da Conceição. Ou Sebastião Lucas da Fonseca. Ou José António Barreto Travassos."
Rogério Azevedo, in A Bola
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