"Antes de, incrivelmente, subjugarem a Nova Zelândia como há muito não se via e impedirem que marcasse pontos durante quase uma hora, os ingleses alinharam-se em forma de 'v' e avançaram contra os adversários durante o típico ritual maori. Os neozelandeses gostaram do desafio e elogiaram-no, mas a World Rugby, mesmo achando graça à resposta que partilhou como "incrível", multou a Inglaterra por alguns jogadores terem ultrapassado a linha do meio campo
Um jogo não se ganha, perde ou empata pela forma como os adversário escolhem reagir ao haka. Quem assiste de fora, sem os píncaros da adrenalina na pele, como quem o vive no campo, julga que o ritual maori interpretado, religiosamente, pelos neozelandeses antes de cada jogo, julgará que as encenadas caras, gritos e gestos são um desafio guerreiro para o qual a reacção dada determina o quão bem os neozelandeses e os adversários se portarão quando começarem a tocar na oval.
Não foi por os ingleses se alinharem em forma de 'v', no sábado, unidos numa seta invertida contra os homens que se mascaram de ferozes durante um minuto, que encolheram o poderio do melhor conjunto de jogadores do mundo, e do Mundial, durante os 80 minutos seguintes de jogo, para ganharem e garantirem a presença na final do torneio.
O público adorou, os All Blacks apreciaram, a World Rugby partilhou o momento, cavalgando na inspiração, como "uma resposta incrível" e a meia-final virou epicamente memorável ainda antes de ser jogada.
Contadas quase quatro milhões e meio de visualizações no vídeo em que, de facto, elogia a postura da Inglaterra, a World Rugby multou-a em 2000 libras (cerca de 2.300 euros), noticiou a "BBC", por violar as regras "relativas aos desafios culturais". Por outras palavras, em causa está o protocolo de rituais culturais, que impede os adversários de ultrapassarem a linha do meio campo durante estes momentos. No sábado, seis jogadores chegaram a estar para lá desse limite.
Além da Nova Zelândia, também as Ilhas Fiji, a Samoa e o Tonga o fazem. O protocolo foi criado em 2007, após os franceses, nos quartos-de-final do Mundial, quase roçarem as caras nos neozelandeses - fora outras reacções mais ou menos desafiantes.
As regras existem para serem cumpridas, as multas aparecem quando não o são e, confirmado o castigo imposto pela entidade que apreciou a atitude que o causou, várias vozes opinaram sobre o que aconteceu. "Acho que foi fantástico, é essa a natureza do haka, é um desafio. Eles caminharam em frente e sei que os rapazes estavam todos motivados, olhámos à volta e pensámos 'vamos a isto'", explicou Dan Coles, talonador da Nova Zelândia, na conferência de imprensa em que foi ainda mais cândido: "Os ingleses ganham carradas de dinheiro, portanto, conseguem pagar a multa".
Algum fundo de razão terá Dan Coles, pois o "New Zealand Herald" escreveu que, por chegarem à final, a Federação Inglesa de Râguebi deverá pagar perto de 41 mil libras (ou cerca de 47 mil euros) a cada um dos 31 jogadores do plantel.
Para Steve Hansen, o seleccionador neozelandês, a reacção dos ingleses também foi "fantástica", explicando o óbvio de que "eles não foram multados por responder como o fizeram, mas por atravessarem de a linha do meio campo". Vários All Blacks já tinham elogiado a postura, antes de o castigo ser conhecido, como Aaron Smith, formação que até revelou que Owen Farrell lhe estava a piscar o olho durante o haka.
O capitão inglês, sorridente durante o ritual, disse que a equipa "não queria apenas ficar parada, à espera" que os neozelandeses "fossem contra" eles. Manu Tuilagi, centro que marcou um ensaio aos 96 segundos do jogo, explicou que a ideia partiu de Eddie Jones, seleccionador da Inglaterra, para "toda a gente mostrar que estava pronta para aceitar o desafio".
Porque o ritual não tenciona ser guerrilheiro, violento ou agressivo. É, sim, um ritual desafiante que clama por ser aceite em quem tem como alvo. "As pessoas acham que é desrespeituoso, mas, se perguntarem a um maori, ele dirá que o haka é isso mesmo: apresentar um desafio e, se a outra equipa te desafiar de volta, está tudo bem", resumiu Tapeta Wehi, um perito em rituais e cultura maori, questionado pelo "The Guardian".
Na Nova Zelândia, há vários tipos de haka praticados em cerimónias distintas, como aniversários, casamentos ou funerais."
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