"A presença do Benfica no Troféu Charles Miller de 1955 foi marcante na expressão do nome do Clube no Brasil. Seis equipas jogando todas contra todas. Não deu para ganhar, mas foi um jogo dos encarnados, no Maracanã, que atraiu maior números de espectadores: mais de 100 mil!
O Benfica está na América, do Norte, e eu aproveito para ir a um dia em que o Benfica estava na América, do Sul, para jogar contra o América, do Rio. Rio de Janeiro, como está bem de ver.
Ora, isto passou-se em Julho de 1955. Dia 3 de Julho.
Eram aqueles tempos nos quais as digressões do Benfica começaram a tornar-se famosas. Dias e dias e dias a fio longe de Portugal, Férias, para que vos quero. Mas o nome da águia era grande e ia sendo chamado um pouco de toda a parte.
Agora anda o Benfica pelos Estados Unidos.
Então, andava o Benfica pelo Brasil.
O América venceu, no Maracanã, os encarnados por 4-2. Um calor daqueles, sufocantes, próprio de ananases como dizia o divino Eça.
Uma sede incomensurável: os jogadores portugueses sempre a correrem para o banco à procura das garrafas de água, prestes a caírem para o lado de desidratação.
Mas, vamos lá ver: nada de desculpas batatas. Otto Glória, o treinador, conhecia bem o ambiente em que jogava. Reconheça-se, em primeiro lugar, mérito ao adversário, que ganhou bem segunda rezam as crónicas.
Depois, pela ordem natural estabelecida, fala-se dos méritos benfiquistas. Que os houve. Costumo dizer que a história dos grandes clubes está também ela, assente em grandes derrotas. E pode sair-se de campo orgulhoso após uma derrota. Como foi o caso.
Até ao ponto mais alto da coragem
A primeira parte do encontro foi equilibrada e terminou equilibrada: 1-1. Alarcon marcou para o América, Caiado empatou para o Benfica, as coisas decorriam para cá e para lá, golpe e contra-golpe, o publico parecia feliz.
Um periódico brasileiro trouxe à estampa: 'O Benfica foi, durante muito tempo, à força de coração e de aprego à luta, de enorme abnegação, uma verdadeira ameaça para o prestígio do futebol de Santa Cruz. Não surpreende, pois, que os americanos, neste momento a melhor equipa do Rio de Janeiro, hajam redobrado de vontade, pondo em equação, no relvado do Maracanã, toda a sua classe de futebol artístico e prestigioso'.
Ora, portanto, o Benfica punha estes americanos, do sul, americanos-brasileiros, em sentido.
Leónidas fez o 2-1. O Benfica respondeu de imediato e empatou. A meia hora do fim, tudo muito tem-te-não-caias.
Ainda por cima, tal como acontece agora na América (do Norte); disputavam ambas as equipas um torneio bem alargado, Querem ver? Corinthians, América (RJ), Flamengo, Palmeiras, Peñarol e Benfica. Jogando todos contra todos. Chamaram-lhe Troféu Charles Miller.
O Benfica tinha perdido (0-1) com o Flamengo, na jornada inicial. Depois 2-0 ao Peñarol e 2-1 ao Palmeiras.
É altura de o América arrancar um esforço final. Os benfiquistas estão demasiado cansados para responderem. Coluna, que se exibira de forma extraordinária nos confrontos anteriores, estava estranhamente apático. Tal como Costa Pereira, que facilitou muito nos dois golos finais do América.
Depois, nova derrota, frente ao Corinthians. Um quarto lugar final atrás de Corinthians, América e Flamengo.
E um registo para a história de um torneio que ficou guardado para sempre na memória dos brasileiros: foi precisamente o América - Benfica o jogo que chamou mais gente às bancadas. 87.689 pagantes estiveram no Maracãna para uma assistência total de mais de 100 mil pessoas.
É assim, com passadas gigantescas como esta, que se afirmam os nomes incontornáveis do futebol do mundo. Às vezes, mesmo à custa de derrotas...
O Benfica saía do Maracãna de peito enfunado. Sob os aplausos estralejantes de um público encantado."
Afonso de Melo, in O Benfica
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